Postagens

Mostrando postagens de dezembro, 2014

A Noite mais Longa

Imagem
"E Jesus, cheio do Espirito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto" Lc 4:1 Eu queria dizer obrigado a todos que passaram em minha vida durante este ano maluco. Muito obrigado por ter compartilhado meus lamentos e saudades, por ter rido de minhas piadas, aceitado um café... esse foi um ano muito longe, não foi fácil. Hoje é a noite mais longa do ano para o hemisfério norte. Esta noite é para o ano o que este ano está sendo para minha vida. Minhas folhas caíram, a vida debandou e todos dormem em suas tocas. O importante é persistir - em silêncio. Muitas vezes ouvi pregadores tentando explicar porque o Espírito levou Jesus para ser tentado no deserto, não era lógico Deus guiar seu filho para sofrer tentações... parece que Deus quer nos tentar, tipo que nem no Gênesis, porque uma tal árvore do bem e do mal!? Hoje, quando penso nos quarenta dias e quarenta noites(sempre quando leio 40 entendo "kairós") que Jesus passou no deserto ant

Poesia zero

Este discurso Contem zero prosa Não possui o embalo Das palavras enfileiradas Nem o doce do sentido Antes, formiga de meias coisas Ideias sintéticas 100% polpa Também não possui conservantes Não dura mais do que deve Não dá alegria Porque não coloco glúten Nem camarão Nem leite Mas contém traços de alma

Relato de um sonho

São quatro e quarenta e oito Penumbras rastejantes Agarram minhas pernas Braços e rosto Lentamente Os nãos de minha garganta Alcançam os nãos de meu corpo E aquela criança Que tinha medo de agulhas Grita também E tudo isso é lágrimas Em meu rosto enrugado Estava a brincar e correr Sobre uma planície alagada Uma fenda cresce em abismo até o horizonte E me arrasta junto as torrentes Agarro-me à raízes Sobre o vazio Nada acontece E a escuridão cria monstros Não posso cair. Aperto, com veias saltando Em meu pescoço Algumas certezas escorregadias A força é tamanha Que me impede o pensamento Seria a vida, Como um quadro de Caravaggio, Uma agonia em claro-escuro Suspenso nas encostas do vazio? Esse pêndulo muscular De tão urgente Torna-se ele mesmo Eterno Oculto, sob a trama dos dias Como um grito engasgado Dentro dos metrôs Às seis da manhã

O Homem Vitruviano

Imagem
A minha vida eu a vivo em círculos crescentes sobre as coisas, alto no ar. Não completarei o último, provavelmente, mesmo assim irei tentar. Giro à volta de Deus, a torre das idades, e giro há milênios, tantos... não sei ainda o que sou: falcão, tempestade ou um grande, um grande canto Rilke - O Livro das Horas, trad. José Paulo Paes Olhando ao nosso redor, o que não é homem? Quando dizemos que a natureza é bonita, não seria esta paisagem uma mera concessão de nosso planejamento urbano-agrário? O rio se tornou esgoto, as florestas, uma reserva de matéria prima para alguma indústria, seja ela farmacêutica, mineradoras... tudo se tornou uma reserva para utilização humana. E o que não nos é útil e bonito, simplesmente ignoramos e atropelamos em algum momento de nosso feriadão. Qual é a crítica? Deveríamos criar reservas e reflorestar mais? Seria essa a saída do problema? Eu penso que o que ainda não está no horizonte é que existe um modo de vida tecnológico que se impõe

a virtude da fundidade

desde muito cedo aprendi a carregar coisas com minhas mãos nas costas ou nos ombros suportava prazeroso a matéria, às vezes líquida outras sólida de meus encontros sempre acreditei que as coisas eram de se carregar me alegrava em dizer não ao peso de um balde d'água e tudo aquilo balançava escorregava me fazia tropeçar no relevo das raízes um dia passando por uma ponte orgulhoso, com uma pedra enorme! transpassei o piso que ria de meu espanto. e não muito depois afundava nas águas escuras abraçado à grandeza mineral inseguro, contemplava a superfície se distanciar e tudo ficar mais escuro angustiado pela tendência de profundidade me debati, convulsivo e num supremo sacrifício mantive minha rocha com apenas uma das mãos enquanto a outra remava e meu corpo contorcido se despedia em gritos gasosos o vazio escuro das profundezas me constrangeu era amplo demais! saindo de meus olhos de meus ouvidos e de toda epiderme infinitas e dolorosas p