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Mostrando postagens de 2018

O inefável presente

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A Serious Man - 2009 " O mundo, o nosso mundo está morrendo há um século ou mais. E nenhum homem nos últimos cem anos foi louco o bastante para colocar uma bomba no rabo da criação e explodir com ela. O mundo está apodrecendo e morrendo aos poucos. Mas precisa de um coup de grâce, precisa se partir em pedacinhos. Nenhum de nós está intacto e, mesmo assim, temos em nós todos os continentes, os oceanos entre os continentes e os pássaros voando. Vamos derrubar isso, a evolução desse mundo que morreu mas ainda não foi enterrado. Estamos nadando na cara do tempo e tudo o mais se afogou, está se afogando ou vai se afogar ." Essa citação foi retirada de uma leitura caótica do livro Tropico de Cancer de Henry Miller e me chamou a atenção para a ideia de que estamos em uma lenta decomposição. Percebo que já há alguns anos eu leio jornais, colunistas e pessoas que escrevem e comentam os acontecimentos do momento, sejam eles políticos, culturais, econômicos, etc.

Os deslocamentos do apolítico

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Cena de os doze trabalhos de Asterix Voltando das eleições no último domingo (voto em Guaratinguetá), um passageiro perdeu a passagem e entrou em pânico quando o motorista disse que não poderia embarcá-lo sem um comprovante impresso. Ele entrou no ônibus mesmo assim, disse que não ia descer, pediu ajuda. O motorista chamou a polícia e depois de uns 20 minutos de discussão, passageiros começam a pensar em mudar de ônibus, achar que o homem estava drogado, etc. Um casal tenta ajudar dizendo: "assim você está perdendo a razão". A moça do guichê imprimiu um mapa dos assentos com o nome do rapaz, a polícia insistiu com o motorista que o homem tinha razão e deveria ser embarcado. O motorista estava irredutível, aguardando do lado de fora do ônibus uma ligação que demorava a chegar. Uma passageira começou a chorar, temendo encontrar o metrô fechado. "Eles falaram que eu vou dormir na rua!" gritava o rapaz andando e gesticulando pelo corredor do ônibus. Esse é u

34 anos em trânsito

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Só faltou a garrafa de 1 litro de guaraná antártica e um bolão com glacê  Essa semana eu comemorei 34 anos, sendo assim me dispus a escrever e deixar-lhes um post como presente! Aos meus amigos-parceiros-de-existência que fui angariando ao longo da vida... aqui vai. Como ritual de aniversário eu costumo convidar pessoas que estão perto, seja convivendo no trabalho ou em outras atividades, convido quem está passando por mim no Whats, na rua e na vida. Pessoas queridas. Quando era mais criança, saía de bicicleta chamando meus amigos para ir em casa comer uns salgados. Comprava uns centos de uma vizinha, pedia a minha torta de morango pra dona Beth e era isso. Amigos sempre vieram e era muito bate papo, algumas fotos e boas risadas. Poucas pessoas não puderam ir, outras não foram convidadas, nenhum ressentimento. Amo todos vocês. Já está na hora de entendermos que não aceitar convites ou não ser convidado não quer dizer nada, não quer dizer que a pessoa não gosta de você, ou go

A Fortuna como divisor de águas

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A Fortuna - Tadeusz Kuntze Revirando a biblioteca do quartinho de estudos do meu pai, acabei encontrando uma versão elegante da Cidade de Deus de Agostinho. Contra capa contendo informações variadas, capa dura com um símbolo misterioso, sem enunciados. Livros antigos possuem na tradução uma história tão interessante quanto o conteúdo em si e depois de ler as notas do tradutor, parti para os infinitos capítulos sobre como os romanos tinham vários deuses e como isso não fazia sentido nenhum, se comparado com o Deus único do cristianismo. No meio dos divertidos relatos sobre a história de Roma, o capítulo sobre a Fortuna me chamou atenção. Achei o destrinchamento da reverência irracional da deusa um espetáculo. O capítulo em questão é o 18 do livro IV, cujo título é: Como é que distinguem a Felicidade da Fortuna os que as consideram como deusas? "A Fortuna, essa, pode ser má; mas a Felicidade, se for má, já não será Felicidade." (...) "Mas então como é que a de

A intolerância e nossa hábil covardia

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Sonny Liston vs Floyd Patterson *" Não é uma sensação ruim quando você é nocauteado, ele disse. É, na verdade, uma sensação boa. Não é doloroso, apenas um agudo atordoamento. Você não vê anjos ou estrelas; você está numa nuvem de prazer. Depois que Liston me acertou em Nevada, eu senti, durante quatro ou cinco segundos, que todos na arena estavam no ringue comigo, reunidos ao meu redor como uma família, você sente um carinho por todas as pessoas na arena depois de ser nocauteado. Você se sente amado por todas as pessoas. Você anseia por tocar e beijar todas as pessoas - homens e mulheres - e depois da luta com Liston, alguém me disse que eu realmente mandei um beijo para a multidão do ringue. Eu não me lembro disso. Mas eu acredito que seja verdade porque era dessa maneira que eu estava me sentindo durante quatro ou cinco segundos depois do nocaute..."   Este é o relato do boxeador Floyd Patterson em uma historia escrita por Gay Talese chamada "The loser", pu

O retorno da alegria

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[Não penses] Não penses. Não penses. Os pensamentos são como a chama que de alto a baixo tudo consome. Perde a razão, endoidece de embriaguez e assombro, e de cada broto nascerá a cana-de-açúcar. A bravura é demência, tira-a da cabeça, renuncia! Como o leão e os homens, renega as vãs esperanças. Os pensamentos são armadilhas, é proibido desperdiçá-los. Para que tanto sacrifício por migalhas? Se não te absténs desse alimento, é inútil querer livrar-te de tais ardis. Se a avidez reclama, sê surdo aos seus apelos. Esta é uma poesia de Rumi, um dos maiores poetas místicos de todos os tempos. Ele viveu no século XIII e era filho de um teólogo. Estudou com ele e outros sábios e veio a se tornar mestre com 37 anos, tendo vários discípulos. Nesta altura de sua vida, Rumi encontra Shams de Tabriz e desse encontro extraordinário se inicia uma nova tradição mística. "Esse longo encontro fundiu dois homens espiritualmente realizados, duas almas em idêntica condi

Te pego lá fora

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Cena do clássico da sessão da tarde Minhas primeiras lembranças da vida se compõem de brigas ferozes com outras crianças. Lembro-me de uma roda em que eu estava no centro distribuindo socos com outro garoto e ele me acertava um soco no olho. Nesse momento eu saia correndo e ia para casa, minha mãe trazia água com açúcar para me acalmar, me xingava e dizia que eu tinha que parar de brigar.  Em outra lembrança eu estava brincando na varanda de casa e a coisa de repente virava um briga, e como eu andava com garotos mais velhos a coisa não saia bem. Nessa briga eu mordi a cabeça do vizinho com tanta força que entrei em casa com um tufo de cabelos na boca. Nessa época eu costumava tomar uns tapas na cara, pesadas nas costas, ser derrubado, pedradas. Eu tento me lembrar de alguma violência que eu tenha deliberadamente causado e me lembro de brigas que tinha com minha irmã e prima, acertei uma pedrada na vizinha aleatoriamente, socava uns na boca do estômago, jogava gatos na cerca

O politicamente in-correto

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                Tenho ouvido o temo "politicamente correto" várias vezes, geralmente de uma pessoa que se diz conservadora para criticar posturas da esquerda. Isso tem despertado minha curiosidade para observar esse comportamento inovador, sofisticado, de ir contra o senso comum. Dizem: "sou contra o politicamente correto", criam os guias do politicamente incorreto, criticam a tese do aquecimento global, elogiam Trump, acreditam numa ditadura do movimento gay, veem as politicas afirmativas como discriminatórias e quando perguntamos por que? Bom, porque somos contra o politicamente correto.           Os ídolos da esquerda sempre possuíram uma aura de bom mocismo por contraste, afinal o status quo tem sido uma merda desde sempre, isso se você não mora em algum país nórdico. O que, me parece, é o equivalente preguiçoso da critica do politicamente correto. Assim, quando dizemos que precisamos ser diferentes, mudar as coisas, isso soa como algo bom quase que por s

Bendita Geni

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      Conversando com trutas na mesa do bar, chegamos ao assunto fatídico da bunda in natura apresentada por Anita em seu mais novo clipe Vai Malandra. Li uns textos comentando o clipe e agora entendo melhor a questão da negritude ser usada como estratégia de marketing... celulites e pobreza como estratégia de marketing e a ostentação da mulher objetificada funkeira da favela como estratégia de marketing. Poderíamos reconhecer aqui que ela se tornou um tipo feminino superior quando embrulhou todas as mazelas da subjugação da mulher e as usou a seu favor?           Um dos textos dizia que a Anitta rebola porque quer, ou seja, rebola de uma forma emancipada, o que a torna uma mulher sujeito, não mais objetificada. Nessa altura do campeonato, me pergunto se seria uma coisa emancipatória, num mundo que só te fode, se tornar um masoquista. Creio que essa é a pergunta que não quer calar.             Permitam-me viajar sobre outras memórias involuntárias           Lembro-me de u