O inefável presente

A Serious Man - 2009

"O mundo, o nosso mundo está morrendo há um século ou mais. E nenhum homem nos últimos cem anos foi louco o bastante para colocar uma bomba no rabo da criação e explodir com ela. O mundo está apodrecendo e morrendo aos poucos. Mas precisa de um coup de grâce, precisa se partir em pedacinhos. Nenhum de nós está intacto e, mesmo assim, temos em nós todos os continentes, os oceanos entre os continentes e os pássaros voando. Vamos derrubar isso, a evolução desse mundo que morreu mas ainda não foi enterrado. Estamos nadando na cara do tempo e tudo o mais se afogou, está se afogando ou vai se afogar."

Essa citação foi retirada de uma leitura caótica do livro Tropico de Cancer de Henry Miller e me chamou a atenção para a ideia de que estamos em uma lenta decomposição.

Percebo que já há alguns anos eu leio jornais, colunistas e pessoas que escrevem e comentam os acontecimentos do momento, sejam eles políticos, culturais, econômicos, etc. E faço isso não para descobrir o que está acontecendo, mas para ver, como um voyeur, os recônditos subterrâneos do mundo. Disse Nietzsche que não conseguimos falar sobre o presente ou sobre o que não superamos, e isso está tão impregnado em mim que eu não presto tanta atenção aos fatos, à tal imparcialidade, aos imperativos, me divirto percebendo impactos e vibrações do não dito.

Uma coisa que me diverte nessas leituras é perceber como as pessoas poderiam ter dito o que elas levam vários parágrafos para enrolar, talvez uma palavra fosse suficiente. Ou talvez tudo o que estamos vivendo seja na prática indizível, uma grande morte em marcha pela face da Terra.

No que tenho acompanhado em minha time line, vejo que pequenas verdades são empregadas como alavancas para exercer pressões, ejacular afetos reprimidos, assim é o "meme" ou a filosofia do meme, commoditie descoberto pelo MBL como um pré sal pós manifestações de 2013, uma fonte praticamente inesgotável de controle e direcionamento de possíveis eleitores analfabetos funcionais(praticamente todo o eleitorado brasileiro).

Falar disso é meio vergonhoso, não gostamos de admitir que não sabemos interpretar um texto. Eu sinto isso quando vou ler Deleuze falar das mônadas(não gônadas) do Leibniz, ou o Henry Miller no seu trópico, as vezes navego várias páginas sem saber para onde estou indo e desanimo de ler, agora me dou até o luxo de pular páginas. Creio que ler e não entender é parte de um alongamento mental, dolorido, porém necessário. Isso ajuda também a perceber que não entender algo não é pecado, não sei porque precisamos entender tudo e lacrar, humilhando uma pseudo platéia adversária.

Não é por isso que eu também desistiria de ler, ou de tentar entender. Acho que isso é um exercício de humanidade para com as pessoas que escrevem, tento entendê-las. Mas ultimamente as pessoas escrevem como que dando varadas em seus (e)leitores.

Assuntos do momento:

Escola sem partido - Acharia mais justo um projeto de cotas para professores de humanas de direita, mas pessoas de direita não concordam com cotas.

Snipers no RJ - Traficantes com fuzis são verdadeiros achados em termos de pessoas matáveis, desde que aboliu-se as execuções públicas nós estamos empobrecidos em termos de catarse sádica. Acho que poderíamos prendê-los(ao invés de simplesmente matar, que tédio) e coloca-los em arenas para digladiar até a morte.

Médicos cubanos - Para o bem destes servidores vamos fazer com que retornem para Cuba antes que Bolsonaro assuma.

Nomeação de Moro - O juiz foi imparcial porque ele não sabia que ele iria prender o Lula e que o Lula seria candidato e que seu rival natural(Bolsonaro) iria ganhar as eleições e seria seu chefe. Ser imparcial depende do quanto somos capazes de viver o presente.

Fake news - Mixagem de fantasias com uma dose inebriante de verdade para tirar o pé do chão, um show de lacração. Ou simplesmente aquilo que eu não concordo.

Nomeação do chanceler - dá-lhe começarmos a ler as excrecências que ele produziu para criticá-lo com maiores requintes de crueldade. Sente-se amigo e pegue a pipoca, o espetáculo ainda nem começou.

No fim, amigos, estamos patinando e as instituições estão em franca decomposição, pois não existe possibilidade de vitalização ou de conexão com o presente. Precisamos convencer o morto a ir embora.  

 

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