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Mostrando postagens de novembro, 2015

Qual é o sentido disso tudo?

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A esfinge testando o pessoal a caminho de Tebas - Pintura de Ingres Dizer o que pensamos nem sempre é fácil, uma vez que o que acreditamos, sentimos, amamos, nem sempre nos é disponível pelas palavras. Esses sentimentos estão lá, mas não conseguimos trazê-los à luz, eles se recusam – rebeldes. Por isso, nos acostumamos a falar somente sobre o que está ali, exposto ao céu do meio dia... coisas sobre as quais todos concordam, pacíficas, obedientes. Esse discurso pacífico em torno do qual tecemos nossas conversas mais comuns é como um espelho d’água diante do qual nos colocamos todos os dias. As pessoas se dizem, contam suas histórias coloridas, suas piadas, seus medos... flutuamos vagarosamente sem perceber que existe uma distância entre o que dizemos e onde realmente estamos.  - Por favor, poderia me informar onde fica a secretaria?  - Sim, claro! Fica logo ali, no outro bloco.  - É difícil chegar lá?  - Não, mas eu te acompanho, eu estou de bobeira aqui mesmo.  -

Um Louvor ao Boteco

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Caminho devagar em direção ao ponto de encontro e observo o horizonte líquido de vermelhos róseos, sinto o perfume doce de uma ninfeta arder meus pensamentos e me chega a ideia: a noite que se avizinha promete. Isso me desperta uma espécie de gratidão, pois não entendo a razão dos deuses terem me presenteado com uma intuição tão viva... sempre soube das coisas antes que acontecessem e tenho a impressão que o próprio deus Mercúrio é implacavelmente pontual, o que para nós brasileiros significa que ele sempre chega antes. Adentro o boteco e sento em uma mesa ao canto, colado à parede. Observo as pessoas bebendo e conversando, os garçons caminhando com um elegância apressada entre as mesas, carregando pedidos, gritando com os chapeiros. Olho o relógio e sinto um alívio recorrente, de novo cheguei exatamente no horário combinado. Faço isso não por gostar de ser pontual, mas esperar a pessoa amada sempre me preencheu de um prazer imaginativo que aprendi a apreciar depois de muitos at

Girando em falso

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A celebração das estações como um sinal de conexão entre a natureza e o humano "Nenhum ritual tribal até hoje registrado jamais tentou impedir que o inverno chegasse; pelo contrário, o ritual prepara a comunidade para suportar, juntamente com o resto da natureza, o frio terrível da estação." Joseph Campbell - O herói de mil faces Geralmente interpretamos os rituais religiosos como uma tentativa humana de controlar a natureza, assim como entendemos os rituais mágicos como uma tentativa de controle das doenças e dos males da existência. Costumamos olhar o passado com um ar de comiseração e quando encontramos algo interessante, pensamos: nossa, como os antigos sabiam disso ou faziam aquilo!? Isso é apenas uma maneira de expressarmos o quanto nos sentimos o cume do desenvolvimento humano e, por isso, nos assustamos com o quanto os antigos sabiam das coisas... até que eles não eram tão burros. O que não conseguimos ver é que os antigos de certa forma nunca foram antigos,