Postagens

Mostrando postagens de 2020

A vida na hora

Imagem
Cena do filme cute Lost in Translation  " A vida na hora           Cena sem ensaio.          Corpo sem medida. Cabeça sem reflexão. Não sei o papel que desempenho. Só sei que é meu, impermutável. Um dia marcamos um encontro, caímos naquela coisa de se ver, ir beber um cerveja na mesa do bar.  Tudo bem, que tal próximo sábado? Afinal, estamos em São Paulo, nunca pode ser hoje.  Seguindo todos os protocolos, amarro meus sapatos e penso: o que será de mim hoje? Caminhando pelas ruas, noto que as pessoas se encontram clandestinas, sem mascaras no meio da rua.  Parece que conheço aquela pessoa! Não, seu olhar me atravessa Um bar, luzes indiretas... tudo parece ir bem. Algo me diz que tudo que está acontecendo, na verdade, não tem nada a ver com o que está acontecendo. Conversamos sobre as coisas, mas, nas sombras, estamos nos olhando, achando aquilo bonito, isso engraçado. As mãos estão dançando para elas mesmas em cima da mesa. Você gostou da entrada? É bom esse drink, opa, não foi es

Esperança em tempos sombrios

Imagem
"O tipo de esperança sobre o qual eu frequentemente penso (especialmente em situações que são particularmente desesperançosas, como a prisão) eu entendo acima de tudo como um estado da mente, não como um estado do mundo. Ou nós temos esperança dentro de nós, ou nós não temos; é uma dimensão da alma; não é essencialmente dependente de alguma observação particular do mundo ou estimativa da situação. Esperança não é um prognóstico. É uma orientação do espírito, uma orientação do coração; ele transcende o mundo que é percebido imediatamente, e é ancorado em algum lugar além do horizonte. Esperança, nesse sentido profundo e poderoso, não é o mesmo que a alegria quando as coisas vão bem, ou a disposição para investir em projetos que são obviamente direcionados para um sucesso no curto prazo, mas, ao contrário, uma habilidade para trabalhar por alguma coisa porque ela é boa, não apenas porque tem uma chance de dar certo." Vaclav Havel Eu tirei essa citação do livro "Esperança n

Desligue o wi fi

Imagem
      Observando as pessoas e as coisas durante essa pandemia, vou matutando algumas conclusões que gostaria de compartilhar com vocês, queridos colegas de planeta.  Quem continua com seu emprego, no famoso home office, está trabalhando muito mais do que antes. 12 horas ou mais, madrugada adentro, final de semana, etc. As empresas perderam os pudores e partiram para o ataque! Reduziram salários, os chefes disseram: "se conseguirmos produzir por aqueles que não estão conseguindo trabalhar, conseguiremos salvar seus empregos".  Meses depois, funcionários estão o pó da rabiola, e as empresas? Felizes com o aumento de produtividade advinda da nova configuração do trabalho. É o famoso: crescer na crise, lucrar na adversidade dos outros é refresco.  A combinação de rotinas intermináveis na frente do computador com isolamento social me parece um "blend" catastrófico que irá impactar milhares de home officers em breve. Porém, isso gera lucros, seria esse o alvorecer da expl

Não precisa dar certo

Imagem
Quem nunca seu pão em lágrimas comeu, Quem nunca noites aflitas passou Sentado, aos prantos, em seu leito, Este não vos conhece, ó poderes celestes. Vós nos conduzis em plena vida, Vós deixais pecar o pobre, Para então o abandonar à dor; Pois toda culpa se expia neste mundo. Quem à solidão se entrega, Logo sozinho estará; Todos vivem, todos amam, E o abandonam à sua dor. Sim, deixem-me com meus tormentos! E se posso, por uma vez, Sozinho, de fato estar, Sozinho não estarei Um amante rasteja, furtivo, A ver se sua amada sozinha está. Assim também, noite e dia, rasteja Em mim, solitária, a dor, Em mim, solitário, o tormento. Ah, há de chegar um dia em que Solitário em meu túmulo estarei, E a dor enfim sozinho me deixará! Goethe - Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister Os poderes celestes não são tão generosos aos olhos de Goethe, se comparados ao nosso querido Deus cristão. Temos uma tendência de pensar os poderes celestes como se eles estivessem tor

O mundo está de ponta-cabeça

Imagem
"Será suficiente aqui que eu tome como fundamento aquilo que deve ser reconhecido por todos, a saber, que todos os homens nascem ignorantes das causas das coisas e que todos tendem a buscar o que lhes é útil, estando conscientes disso. Com efeito, disso se segue, em primeiro lugar, que, por estarem conscientes de suas volições(vontades) e de seus apetites, os homens se creem livres, mas nem em sonho pensam nas causas que os dispõem a ter essas vontades e esses apetites, porque as ignoram." pg.42 Espinosa (Creio que se Freud lesse Espinosa, iria corrigi-lo e dizer que em sonhos podemos acessar as causas de nossos apetites.) Compartilho com vocês uma epifania que me veio hoje, na hora do café da tarde, não faço a menor ideia do por quê. Será porque ela foi a minha carta da semana, sendo uma carta frequente nas minhas tiragens pessoais? Vejamos se as minhas viagens fazem algum sentido para você, desta feita, talvez eu consiga me libertar da sina do pendurado. Sendo e

Um gesto ameaçador

Imagem
Quando ia à padaria costumava ver os títulos das revistas na lateral da banca de jornal, era um tipo de exercício oracular observar como os editoriais escolhiam seus títulos, um deles era: "A ciência do destino". Na revista, eu imagino, o destino ganhou ares de um campo em prospecção, principalmente com a engenharia genética e a manipulação dos algoritmos. Em outras palavras, antes do corona vírus, o destino estava sendo colonizado pela tecnologia e vinha formatando nossa vida "por fora", deixando aos proprietários de tais meios o poder de decidir o destino da maioria. Bastava ver uma palestra do historiador Yuval Harari para que eu sentisse calafrios, pensava... meu deus, em breve todo acaso será determinado por uma equipe de engenheiros de alguma rede social do vale do silício! Esse era o meu pesadelo antes do corona, agora me sinto mais esperançoso... parece que o velho destino se apresentou à humanidade e está fazendo o mundo parar. Nós realmente não sabem

Quarentena: crise econômica ou greve geral

Imagem
Situação de milhões de brasileiros antes e depois do Covid-19 A descoberta que precisa ser apagada O estado de quarentena instalado pela emergência do Covid-19 implica na paralisação de 1/3 da população mundial, fato que poderá causar uma crise econômica tão destruidora quanto o próprio corona vírus. Bom, isso é o que o nosso Presidente e aqueles que representa (provavelmente pessoas como o Sr. Junior Durski do Madero/Tallis Gomes/presidente do BB) estão tentando nos convencer, questionando o rigor das medidas adotadas pelos governadores e levantando um papo furado de quarentena vertical... isso me faz crer que um novo jargão aparecerá em breve - o coaching infectologista. O ponto inusitado desta crise é que ela deu origem, na verdade, a uma greve geral indireta. Por isso que nosso presidente está desesperadamente tentando deslegitimar a intensidade da pandemia. Ele e Trump são os representantes mais lúcidos de um capital que está sendo colocado contra a parede pela paralisaçã

Covid-19 e o monopólio do medo.

Imagem
Usar mascaras será um novo padrão de comportamento público? Com o avanço do corona vírus estamos na iminência de revelar ao mundo as mazelas de nossa abissal concentração de renda e descaso com a população mais pobre. Isso porque em breve o avanço do covid-19, se os prognósticos seguirem seus modelos, irá ceifar milhares de vidas que se aglomeram em periferias, prisões e cidades desassistidas e alimentadas por fake news que relativizam a epidemia com o argumento de que tudo não passa de um complô chinês para angariar "vantagens econômicas" com a crise. Tentar usar a máquina das fake news contra o vírus me fez questionar o papel da doença no cenário político atual... seria o novo inimigo? Defender a economia ignorando a pandemia, o mantra que começa a ser entoado hoje com o: "ou voltamos a produzir e restabelecemos a economia ou o numero de mortos pela crise econômica irá ser maior do que os mortos do corona", apenas denuncia uma disputa pelo monopólio do medo

O Deus carne

Imagem
André Ávila / Agencia RBS Você acredita em Deus? Pergunta o Padre ao presidente da companhia que processa carne em uma pequena cidade do Texas, Odin Quincanmon. Ele responde que sim, o Deus carne. Traduzo aqui um trecho da conversa da série The Preacher, 1ª Temporada. Jesse Custer : Eu disse para você servir a Deus, Odin Odin Quincannon : Eu sirvo, sou um devoto. Jesse Custer :  Que tipo de Deus quer destruir uma igreja? Odin Quincannon : O Deus da carne, é claro. Jesse Custer : O Deus... da carne? Odin Quincannon : O Deus do que é tangível. Que é tangível e verdadeiro. O Deus da carne. Jesse Custer : Certo.. Odin Quincannon : Você acha isso engraçado? Jesse Custer : Não, não. É completamente maluco. Odin Quincannon : Você sabe o que é maluco, Padre? O que é completamente insano? Seguir um Deus que é silencioso. Isso é loucura. Jesse Custer : Eu concordo. Odin também pergunta se o Padre conhece o Brasil. Diz que existe um abatedouro em Cuiabá que processa mi