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Mostrando postagens de outubro, 2013

Existe vida além da prosa

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Mafalda - tirinha chupada do Google Acabo de pesquisar um título indicado pelo ilustre filósofo careca com óclinhos de armação cool, Pondé, e me espanto com o preço da obra: $ 9,89 na Amazon. O livro se chama Best American Essays 2013, tem trezentas e tantas páginas e deve ser uma boa leitura. Agora, eu olho qualquer livraria de nossas bandas e percebo que os títulos começam a 30 paus. É difícil gostar de ler por aqui. Outro ilustre filósofo colunista da Folha, Vladimir Safatle, diz que os partidos de oposição não estão aproveitando a onda de protestos que estão fervilhando pelas capitais, construindo seus discursos em torno de temas descolados das últimas reivindicações da população. A educação, para os políticos, é uma questão de ajustar a porcentagem do pré-sal... já que o povo insiste, 20%! Melhor, 30%!!! Tá bom pra vocês? As coisas aqui andam de lado. Todo mundo sabe que educação é uma prioridade, mas eu não vejo nada de diferente acontecendo ao meu redor, não sinto di

De busão, pra pensar na vida

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Rodoviária de Guaratinguetá - 23/10/1013 Deixei de andar de carro a algumas semanas e já sinto algumas mudanças em minha alma. Uma delas é ficar curioso para ver quem vai sentar ao meu lado no ônibus. Acompanhar a conversa dos outros, no metrô as vezes você fica literalmente no meio da conversa e o mais engraçado é que as pessoas fingem que você não está lá com uma facilidade! Espantoso. Nesse final de semana cheguei na rodoviária de Guaratinguetá para retornar à São Paulo e sentei na muretinha para esperar o horário da partida. Ouço uma voz estridente vindo em minha direção e constato que é a mesma mulher maluca que veio comigo na sexta. Dessa vez eu apenas dou uma risada de satisfação porque ela vai de Pássaro e eu vou de Cometa.. uffffa! Quando passo pelo carrinho da pipoca eu dou uma hesitada, olho pra garotinha de avental e peço uma "pipoca com queijo". Ela prontamente responde com aquela viradinha de cabeça, olhando de soslaio... " de dois, dois e cinque

Última Florada

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Pirassununga 12-10-13 ... As pessoas todas possuem em excesso Somente eu aparento estar perdendo Sou como um ignorante que tem o coração puro Os medíocres vivem lúcidos Somente eu aparento estar confuso Os medíocres vivem lúcidos Somente eu ando introspectivo Indefinido como uma infinita noite silenciosa As pessoas todas têm um ego Somente eu ignoro considerando-o precário O que quero que me distinga dos demais É valorizar o alimentar-se da Mãe Tao Te Ching - Cap. 20 A última lua minguante levou meu querido vovô. Deixou esta existência precária para pisar o chão originário, ele sussurrou: tudo segue seu curso. A flor envelhecida está desobrigada de seu perfume e de sua beleza, é livre. O Seu Wiga teve um velório simples, com poucas pessoas. Seu caixão tinha quatro castiçais em seu entorno, com velas acesas e na cabeceira um Cristo com raios, tudo conforme o esquema do pacote funerário. Eu achei isso estranho, porque não combinava com o espírito dele - um espi

Profetas e Poetas

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A luta de Jacó com o Anjo - Delacroix Casamento Adélia Prado Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram,  ele fala coisas como "este foi difícil" "prateou no ar dando rabanadas" e faz o gesto com a mão. O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva. Esse poema me atingiu como uma frechada do cupido.  Meus olhos estavam acostumados a ler o deserto quando alcançou este balsamo "O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo". Até o ar mudou, ficou cheio de um aroma suave de vida.  Adélia Prado é uma mulher que está tão che

Um figo que cai

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Cartier Bresson - Hyéres 1932 - (O momento em primeiro plano)  Os figos caem das árvores, são bons e doces: e, ao caírem rasga-se-lhes a pele rosada. Sou o vento do norte para os figos maduros Assim, semelhantes a figos, caem entre vós, amigos meus, estas doutrinas: bebei o seu sumo e tomai a sua doce polpa! É outono ao redor, puro é o céu e límpida a tarde. Nietzsche - Ecce Homo (Prólogo) Essa passagem me vem a cabeça depois de ler um capítulo de 1Q84, onde a personagem Aomame é convencida a aceitar o pagamento de um serviço. A personagem recusa a recompensa por se tratar de um trabalho espontâneo, fruto de uma vontade pura que habita seu coração, mas sua empregadora insiste, dizendo: "saiba que um sentimento verdadeiramente puro também possui seus perigos. Não é nada fácil para uma pessoa de carne e osso carregar isso durante a vida. É por isso que você precisa fixar esse sentimento em terra; seria como prender firmemente o balão com uma âncora. E esse dinhe