De busão, pra pensar na vida

Rodoviária de Guaratinguetá - 23/10/1013

Deixei de andar de carro a algumas semanas e já sinto algumas mudanças em minha alma.
Uma delas é ficar curioso para ver quem vai sentar ao meu lado no ônibus. Acompanhar a conversa dos outros, no metrô as vezes você fica literalmente no meio da conversa e o mais engraçado é que as pessoas fingem que você não está lá com uma facilidade! Espantoso.

Nesse final de semana cheguei na rodoviária de Guaratinguetá para retornar à São Paulo e sentei na muretinha para esperar o horário da partida. Ouço uma voz estridente vindo em minha direção e constato que é a mesma mulher maluca que veio comigo na sexta. Dessa vez eu apenas dou uma risada de satisfação porque ela vai de Pássaro e eu vou de Cometa.. uffffa!

Quando passo pelo carrinho da pipoca eu dou uma hesitada, olho pra garotinha de avental e peço uma "pipoca com queijo". Ela prontamente responde com aquela viradinha de cabeça, olhando de soslaio... " de dois, dois e cinquenta ou três?". Respeitando minha pouca experiência de pipoca de rodoviária eu peço o de dois.

 - Põe sal moço?
 - Sim.

Quando vejo aquele monte de ajinomoto sendo jogado com tanta desenvoltura, penso em quanto sal ela não joga todos os dias na pipoca dos outros e nas pessoas que não podem comer sal. Vejo um PM chegando para embarcar com uma garrafinha de água.. muito mais saudável esse cara. Mas eu pego minha pipoquinha e sento na posição do esperador de ônibus, encho a mão e começo a ruminar ruidosamente. Derrubo pipoca pelo chão, para alegria dos pombinhos, e quando chego no queijo eu pego um por um e para cada pedaço de queijo eu preciso de várias pipocas para compensar o ardido do parmesão. Essa cerimônia do queijo eu não realizava desde que ia para o centro de Guaratinguetá de mãos dadas com mamãe.

Na volta ninguém senta ao meu lado. Olho pela janela e vejo a cidade ficar para trás com suas luzes amarelo-melancólicas. Nesse momento dá uma saudade de tudo. Só quem pegou esse busão sabe do que eu tô falando. Essa viagem de volta é ruim por dois motivos: 1- pela saudade doida do começo, daquela que te faz olhar as estrelas e suspirar na alma. 2 - pelo fedozinho de São Paulo que vem com uma tristeza de sentir que o final de semana acabou e que você está novamente num lugar inóspito, afinal, a chegada em São Paulo é tenebrosa, cheio de terrenões baldios e córregos cinzas.

Meio sonolento, abandono o Cometa e parto em direção ao metrô. Pulando dele para a estação rodoviária, driblando as pessoas que ficam na esquerda na escada rolante... me sinto dirigindo novamente! Consigo chegar no minuto em que o ônibus para a Mooca sai do terminal. Agora sim posso soltar aquele ar preso no fundo do pulmão.

É, andar de ônibus é uma experiência muito mais plural das pessoas e da cidade, ajuda a cultivar a paciência e a sagacidade. Ainda com suas agruras, eu acho que em São Paulo vale muito a pena usar transporte público, porque o trânsito quase sempre é tão ruim ou muito mais desconfortável.

Sinto mais paz desde que comecei a flanar pela cidade, leio meus livros, vejo as pessoas ansiosas, cansadas, com pressa, dormindo, ouvindo musica, jogando no cel...

Ô motorista! Vai descê!
     

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