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Mostrando postagens de 2015

Deus e o Mal, quando Ele irá parar os gatilhos?

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Cena em que Agu precisa matar um prisioneiro para ser aceito na tropa - filme Beasts of no Nation A pergunta "Se Deus existe, por que Ele permite que o gatilho seja apertado e que a vida de um inocente seja tirada?" é uma questão daquelas que desafia os cristãos de todas as épocas, pois se Deus criou todas as coisas e Ele é bom, como surgiu o mal? De onde veio o mal, senão de Deus- O Criador? Bom, muitos santos talentosos já escreveram a respeito e fizeram muita ginastica pra dar conta dessa questão e aqui estou eu, uma pessoa nada santa, continuando esta tradição... Graças a você maninha! (a culpa é sua..rs) Deus - Uma grandeza que emudece Eu não sou cristão, e, particularmente, acredito que o Deus hebraico é muito difícil de lidar, pois tudo é oni! Onipotente, onipresente, onisciente..são tantos atributos que não sobra espaço para outros deuses, não existe brecha para a alteridade e isso dificulta nossa relação com Deus. Já conseguiu imaginar uma sílaba eterna? Di

Qual é o sentido disso tudo?

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A esfinge testando o pessoal a caminho de Tebas - Pintura de Ingres Dizer o que pensamos nem sempre é fácil, uma vez que o que acreditamos, sentimos, amamos, nem sempre nos é disponível pelas palavras. Esses sentimentos estão lá, mas não conseguimos trazê-los à luz, eles se recusam – rebeldes. Por isso, nos acostumamos a falar somente sobre o que está ali, exposto ao céu do meio dia... coisas sobre as quais todos concordam, pacíficas, obedientes. Esse discurso pacífico em torno do qual tecemos nossas conversas mais comuns é como um espelho d’água diante do qual nos colocamos todos os dias. As pessoas se dizem, contam suas histórias coloridas, suas piadas, seus medos... flutuamos vagarosamente sem perceber que existe uma distância entre o que dizemos e onde realmente estamos.  - Por favor, poderia me informar onde fica a secretaria?  - Sim, claro! Fica logo ali, no outro bloco.  - É difícil chegar lá?  - Não, mas eu te acompanho, eu estou de bobeira aqui mesmo.  -

Um Louvor ao Boteco

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Caminho devagar em direção ao ponto de encontro e observo o horizonte líquido de vermelhos róseos, sinto o perfume doce de uma ninfeta arder meus pensamentos e me chega a ideia: a noite que se avizinha promete. Isso me desperta uma espécie de gratidão, pois não entendo a razão dos deuses terem me presenteado com uma intuição tão viva... sempre soube das coisas antes que acontecessem e tenho a impressão que o próprio deus Mercúrio é implacavelmente pontual, o que para nós brasileiros significa que ele sempre chega antes. Adentro o boteco e sento em uma mesa ao canto, colado à parede. Observo as pessoas bebendo e conversando, os garçons caminhando com um elegância apressada entre as mesas, carregando pedidos, gritando com os chapeiros. Olho o relógio e sinto um alívio recorrente, de novo cheguei exatamente no horário combinado. Faço isso não por gostar de ser pontual, mas esperar a pessoa amada sempre me preencheu de um prazer imaginativo que aprendi a apreciar depois de muitos at

Girando em falso

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A celebração das estações como um sinal de conexão entre a natureza e o humano "Nenhum ritual tribal até hoje registrado jamais tentou impedir que o inverno chegasse; pelo contrário, o ritual prepara a comunidade para suportar, juntamente com o resto da natureza, o frio terrível da estação." Joseph Campbell - O herói de mil faces Geralmente interpretamos os rituais religiosos como uma tentativa humana de controlar a natureza, assim como entendemos os rituais mágicos como uma tentativa de controle das doenças e dos males da existência. Costumamos olhar o passado com um ar de comiseração e quando encontramos algo interessante, pensamos: nossa, como os antigos sabiam disso ou faziam aquilo!? Isso é apenas uma maneira de expressarmos o quanto nos sentimos o cume do desenvolvimento humano e, por isso, nos assustamos com o quanto os antigos sabiam das coisas... até que eles não eram tão burros. O que não conseguimos ver é que os antigos de certa forma nunca foram antigos,

A flor do carma

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O avocado que bravamente se lançou a vida "O uso adequado das posses leva à revelação, exteriorização e realização, no que respeita aos outros seres humanos e à nossa própria individualidade, isto é, de quem somos. Uma pessoa compreende o que ela é em consequência de usar o que possui; ela demonstra o que é, a si mesma e a todas as outras pessoas, pelo uso do que recebeu por ocasião do nascimento juntamente com o que veio a adquirir posteriormente." pg 73 Quando conversava sobre espiritismo e o tema do carma aparecia, sempre me incomodava, pois sentia que a existência não podia ser compreendida como um crediário das Casas Bahia. Encarnaria apenas pagar infinitas prestações de coisas que eu fiz em outras vidas, ou seja, não fiz? Isso me parecia uma coisa sem sentido, um rebaixar a experiência da vida para servir a um critério técnico, um cálculo moral. A ideia de carma me pareceu uma maneira fácil de explicar o inexplicável que é a vida, tipo, você matou e fez merda

A beleza nua

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Mishima "Beleza carnal, beleza espiritual, tudo o que se relaciona com a beleza nasce na ignorância e da escuridão, e só delas. Não é permitido saber e continuar belo. Se a ignorância e escuridão são a mesma coisa, então uma competição entre o espírito que não tem nada para escondê-las e a carne que as esconde atrás de sua luz ofuscante não é competição alguma. A beleza é só beleza da carne."     A queda do anjo - Mishima Observando o mar de onde brotou Afrodite, toda a amplitude e escuridão que se exibe a pleno dia, as profundezas e o azul que se espraia invadindo o fundo de meus pensamentos, sinto que a beleza não está a nosso alcance. As coisas que estão no mar delicadamente desaparecem, depois voltam e nos surpreendem. Assim é a beleza, algo que não se deixa apreender pelas mãos... se debate e retorna para as profundezas. Parado ao lado da faixa amarela esperando meu trem, contemplo o trem parado na outra plataforma e que carinhosamente me presenteou com uma

Pressão e silêncio

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Paulo Whitaker - Reuters(site Globo.com) Observando os protestos que estão ocorrendo no país eu sinto um misto de alegria e tristeza, isso porque o discurso das pessoas que vão às ruas geralmente está impregnado de um ódio bruto, de imediatismos e soluções fáceis. Chega a assustar um pouco ver pedidos de retorno da ditadura, pessoas que bradam seus discursos o mais alto possível para não ouvirem a opinião alheia, para não serem questionadas em seus motivos. Mas sinto um pouco de alegria também, pois ainda que desajeitado ou precário, as pessoas estão protestando contra algo que não está posto ali, não é contra a presidente Dilma, mas contra algo que elas não conseguem adequadamente verbalizar ou reconhecer. Por isso o mais importante agora não é desconstruir os protestos, mas perceber suas origens e de que maneira poderemos encaminha-los para direções mais interessantes. Que a presidente é um alvo, isso eu não tenho dúvidas, afinal, ninguém está protestando contra os Cunhas e

Encontrando nosso leão

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Hércules encontra o leão Eu decidi parar. Por uma razão inexplicável eu decidi retornar ao ponto de partida, compreender porque estava ali e tentar alterar minha maneira de ser e viver no mundo. Esse percurso de retorno tem se revelado árduo em vários sentidos e as paisagens são bem diferentes do que eu estava acostumado. Estou, lentamente, voltando às minhas origens. Desde muito cedo nos acostumamos a agradar e cumprir nosso papel na sociedade, estudamos, escolhemos amores e carreiras, e quando um dia decidimos parar algo estranho acontece: você percebe que não consegue parar. Todas as tentativas de mudar se desfazem em suas mãos e quando acordamos, percebemos que estamos no mesmo lugar de sempre e que nossos velhos medos chegaram em alguma hora perdida na madrugada da alma e realizaram algumas mudanças na fachada. O suficiente para acreditarmos que mudamos. Quando percebemos isso, tudo começa a ficar pior, pois os velhos medos precisam se esforçar mais para nos enganar, e

A miséria do ser.

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Capa do álbum - Wish You Were Here O que é isto, o Ser? Isso que vivemos quando acordados, andando, trabalhando, conversando... seria isso Ser? Será que a caminho do trabalho nós estamos sendo? Sou eu, ali, verdadeiramente? Observo a mim mesmo e as pessoas, nossos corpos e nossas expressões. É o ser... isso? Nossos corpos se movimentando, comendo e respirando? É o ser o encaminhar fortuito das fibras musculares e de nossos tecidos, uma demanda de açucares e frituras? Uma mastigação cega? Quando estou diante de um espelho a me olhar... estaria eu ali? Quem nos ensinou a acreditar ser o Ser algo dado? O que me garante que sou? Minha certidão de nascimento? Meu nome? Balbucio palavras, seria isso o Ser? Tudo é intermediado pelos sentidos e pela linguagem. Todas as imagens estão conectadas à impressões, reverberações mnêmicas saltitam e se entrelaçam a cada noite e o real se desvia de minhas perguntas, parece que o Ser e o esquecimento andam de mãos dadas e a minha consciênci

Porque conversar sobre pornografia, sem segundas intenções.

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Cena de Don Jon - Seremos a primeira geração a se masturbar com a mão esquerda? Existe uma certa expectativa no meio psicanalítico em torno das mudanças nas estruturas da sexualidade humana, tendo em vista as mudanças que as famílias contemporâneas vem experimentando nas últimas décadas. Tudo isso é muito interessante... essa coisa de pais divorciados, pais desconhecidos, gente que prefere andar de bicicleta na Paulista a ter filhos, casais gays, e por aí vai. Contudo, existe algo no horizonte que eu ainda não vi ser devidamente tematizado em meu curso de psicanálise e que eu acho que possuí um protagonismo avassalador, a saber, a tal da pornografia. Ela geralmente é tematizada na mesa do bar, este ambiente descontraído onde o que realmente importa é discutido. Comentamos novos sites, atrizes, modalidades.. Amateur!(neste assunto todo mundo entende inglês) Milfs, Asians, Red Hairs... Coisa mais fácil do mundo, hoje, é encontrar pornografia. Quando eu quero ler algum texto acadê

Entre dois pecados

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Gosto desta pintura de Prometeu olhando para o céu pensando... vai ter volta Zeus! (…) Eu venerar-te? E por quê? Suavizaste tu jamais as dores Do oprimido? Enxugaste jamais as lágrimas Do angustiado? Pois não me forjaram Homem O Tempo todo-poderoso E o Destino eterno Meus senhores e teus? Pensavas tu talvez Que eu havia de odiar a Vida E fugir para os desertos, Lá porque nem todos Os sonhos em flor frutificaram? Pois aqui estou! Formo Homens À minha imagem, Uma estirpe que a mim se assemelhe: Para sofrer, para chorar, Para gozar e se alegrar, E para não te respeitar, Como eu! Goethe – Prometheus Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse? Não comereis de toda a árvore do jardim? E disse a mulher à serpente: do fruto das árvores do jardim comeremos, Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: não comere

O crente político

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"Respondeu Jesus: o meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora meu reino não é daqui." Jo18:36 Ando observando o comportamento de políticos e lideranças em torno de uma abordagem mais aberta do tema da sexualidade nas escolas e cada comentário geralmente inicia com um “venho de uma família cristã”, depois um “este é um assunto delicado” e tudo indica que isso será sumariamente engavetado, ou simplesmente retirado de pauta. Existe um movimento que busca defender a família como “deus fez”, criticando uma coisa que eles definem como “privilégios dos homossexuais”, pois aos olhos das lideranças cristãs, as leis estão sendo manipuladas para beneficiar apenas esta parcela da população(os gays) em detrimento dos heterossexuais e da família tradicional. Aí encontro uma matéria do Pastor Silas Malafaia dizendo que a política é laica, mas o povo não é. Concordo, e fico impressio

Fazendo fogo

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E se tudo se perder? E se ninguém se importar? Amém. Nos recônditos de uma caverna habitada por um dragão, não existe ninguém. Apenas sombras e o matador de dragões. Existe um buraco em nós no qual não existem arestas, nem extremidades no qual nos agarrar. Observo o horizonte passando em uma viagem de metrô, tudo se sobrepõe. E isso é lindo. Um dia, vi uma larva cair do galho de uma árvore num chão coberto de formigas. Existe um caudaloso rio entre nós o qual chamamos linguagem. As vezes uma árvore cai e podemos nos encontrar. Quando eu cruzo meu olhar ao seu, sabia que consigo te ver ? O pior é não poder lhe falar. De acordo com o raio x, todas as minhas vértebras quebraram quando parti. Você diz tchau e eu procuro a tecla soneca da vida. No fundo dos mares habita um ser que ilumina para abocanhar. Eis-me aqui velho rei, todo o reino está doente e sua filha me oferece o Graal... tem cerveja? Não gosto de vinho. Quando te amei f

Um dois três, Um dois três

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Eu acho que estamos fora do ritmo. Não - estamos muito bem.. Quando eu cheguei em São Paulo em 2007 uma das primeiras coisas que eu fiz foi entrar em uma aula de dança. Foi um curso de férias de forró e eu só me inscrevi por incentivo de alguns amigos mais astutos(para não falar outra coisa), falavam que dançar é a melhor maneira de se divertir e conhecer garotas. Depois de algumas saídas eu realmente sentia falta de saber dançar, ficava olhando aqueles casais tão conectados, dispersos do mundo... pareciam vibrar com a música. Eu não sabia nem o “dois pra lá dois pra cá” e quando a aula começou todos estavam meio travados, havia um abismo entre os professores desenvoltos, confiantes, e o bando que se trombava pelo salão. Aí o professor pára a aula pra ensinar a galera a rebolar, nesses momentos eu abro um parêntesis em minha existência, tipo aqueles momentos que entra o narrador do filme, e eu me pergunto: whatá hell I'm doing here? Bom, agora só me restava pular aquele

A psicanálise sem uma Weltanschauung.

Introdução A palavra Weltanschauung localizada na conferência nº35 da obra Freudiana faz alusão a um conceito advindo da teoria da linguística alemã do século XIX que procura explicar a diferentes concepções de realidade de acordo com uma estrutura cultural determinada pela língua. Uma Weltanschauung seria uma estrutura que proporciona ao indivíduo um solo sobre o qual se constituir e valorar, uma espécie de lente pela qual o singular contemplaria a múltiplo, organizando-o em uma experiência possível de ser apreendida pelo humano. Posteriormente, a ideia de Weltanschauung assumiu um papel mais concreto, alinhado aos diversos movimentos ideológicos que buscavam reordenar as estruturas sociais do início do século XX. Esta é a ideia de Weltanschauung que Freud utilizará em sua conferência, com o intuito de posicionar a psicanálise dentro deste momento histórico, o que ele faz alinhando sua teoria com a Weltanschauung científica. Os desdobramentos da história não permitiram,