Porque conversar sobre pornografia, sem segundas intenções.
Cena de Don Jon - Seremos a primeira geração a se masturbar com a mão esquerda?
Ela geralmente é tematizada na mesa do bar, este ambiente descontraído onde o que realmente importa é discutido. Comentamos novos sites, atrizes, modalidades.. Amateur!(neste assunto todo mundo entende inglês) Milfs, Asians, Red Hairs... Coisa mais fácil do mundo, hoje, é encontrar pornografia. Quando eu quero ler algum texto acadêmico e digito "Heidegger" no Google, aparecem uns três links com um "Isto não é Facebook - faça sexo hoje!" Peitos balançando e gifs pululando pela tela da minha caixa de pandora. Se eu tento fechar, abro, automaticamente, mais dois sites pornográficos. Magica? É o diabo?
Imaginem nossos adolescentes, garotos com seus doze anos e internet onipresente, como eles estão encontrando a sexualidade? Tenho certeza que não é por meios familiares, nem na escola, nem na igreja, e se depender de nossos Deputados e Parlamentares isso vai continuar um assunto apenas para RedTube, coisa que eles também curtem, diga-se de passagem. Antigamente, ou seja, no meu tempo, começávamos nossa épica vida masturbativa com os cines privês, ou cine-peitinhos, Playboys, revistinhas que compartilhávamos e alguns VHS sagrados. Hoje, fico pensando em nossos adolescentes geração porntube, enviando fotos "nudes" para seus amorzinhos, o que posteriormente vaza, se tornando o Whatsapp do dia seguinte. As garotas que estão começando agora a navegar pela pornografia on-line nem imaginavam que eram conduzidas docilmente a esse tipo de padrão, quando encontravam entre suas fotos uma com mil curtidas, era justamente aquela com a bunda em primeiro plano...indefectível e indefensável.
Num TED talk intitulado "Why I Stopped Watching Porn", Ran Gavrieli explica que em um filme pornográfico encontramos o sexo de uma maneira graficamente intensa, focada exclusivamente na penetração, o que ele define como "sem mãos", coisa que meus amigos definiriam como estilo "Frota" de atuar. Isso para dizer que a sexualidade perdeu o teor narrativo, do toque e das carícias, que configura, na opinião do palestrante, uma relação sexual saudável. Já no filme "Don Jon", dirigido, escrito e protagonizado por Joseph Gordon-Levitt, nos deparamos com um garoto viciado em pornografia que se frustra a cada relação real. Nos dizeres do personagem, "bunda -ok, peitos -ok, sexo oral-de vez em quando e gozada na cara - nunca. Sexo é legal, mas não se compara à pornografia."
Outros estudos apontam que a pornografia é tão viciante quanto qualquer droga e que altera todo nosso comportamento, não apenas o sexual. Agressividade, ansiedade e frustração se apresentam junto com as expectativas de um piru grande e duro - eternamente duro. Aí precisamos de pesquisadores de Harvard para entender porque os jovens saudáveis andam consumindo Viagra e estimulantes a torto e direto.
Eu consumo pornografia. Só pra constar.
Faço isso com menos frequência que antigamente, muito menos pra ser sincero. Poderia falar sobre pornografia durante horas, acho um assunto bem divertido. O que eu quero aqui neste post é apenas alertar para um fenômeno que está avançando sem uma discussão aberta. As feministas combatem a pornografia como uma degradação do feminino, eu penso que é degradação do masculino também e que esta questão vai além do mero posicionamento - condeno ou adoro. Esta sexualidade violenta e unilateral é um reflexo de nossa cultura medíocre e disso compartilhamos todos, feministas, garotas com foto de bumbum em primeiro plano, garotos(as) que assistem pornografia - estamos todos no mesmo barco..condenar não nos torna pessoas melhores. Seria muito enriquecedor se pudéssemos conversar sobre os impactos que a pornografia causa em nossa vida pessoal e íntima sem que nos tornássemos, automaticamente, em santos ou punheteiros.
Até agora, os tabus, as instituições públicas e as opiniões dos experts estão a anos luz dos meios tecnológicos de que dispomos.
Algumas questões para reflexão...
De que maneira essa pornografia permanente irá influenciar nosso comportamento?
Será que algum dia entenderemos que a internet e todas as suas ferramentas maravilhosas só existem graças ao esforço masturbatório de bilhões de usuários?
Estamos proporcionando aos adolescentes algum suporte para encarar essa invasão pornográfica?
(Tenho a impressão de que avançamos para a vida adulta como ovelhas para o matadouro..rs)
"Questão para um outro post.. Como o Netflix ajudou a diminuir a taxa de natalidade dos seres humanos?"
Links para se informar a respeito:
https://www.youtube.com/watch?v=gRJ_QfP2mhU - Why I Stopped Watching Pornhttps://www.youtube.com/watch?v=wSF82AwSDiU - The Great Porn Experiment
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