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Mostrando postagens de 2022

Só sei que amorte.

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  "Mas o amor é justamente aquilo que nos mostra que não estamos no controle. 'O amor é nossa maior lei de Murphy', você me disse, com os olhos apaixonados, me contando o quão difícil foi pra você terminar o seu noivado porque me conheceu no meio dele. Eu quase morri ao ouvir isso, só não morri porque sabe-se lá quantas vidas eu precisaria viver de novo até chegar a uma onde você me amasse novamente." Ana Suy Tentei escrever outras coisas nesse final de semana, mas não consegui. Parecia que eu estava querendo que meu cavalinho fosse pra lá, para as bandas de lá... vamos cavalinho! Anda! E nada. E aqui estou eu, novamente falando de amor. Rendido nessa manhã de segunda-feira, deixo ele ir para onde ele quiser.  Escreva. Queria falar sobre decisão. Isso pra mim é um tema épico. A poesia em prosa da Ana Suy foi você que me deu, então a culpa é em parte sua, usarei contra você...rs Ultimamente ando pensando na gente e fui percebendo que nós nos relacionamos em modo revers

Amor Vietnã

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Viet cong camuflados em campo de arroz Diferente de certas histórias de amor em que os protagonistas sofrem as vicissitudes de um amor assumido, a história de hoje conta um amor como uma força sorrateira, torturada, aniquilada, bombardeada, camuflada, escondida em túneis, matagais e pântanos... um amor guerrilha que aparece quando as pessoas estão despreparadas, perdidas em seu ordinário cotidiano. Um amor que come sozinho, vive e persegue os rastros do amado.  Encontrei o amor na lateral de um prédio que frequento. Sentada ali papeando. Eu sento também e papeio. Ela estava conversando com uma amiga que eu frequentava para fumar e falar da vida. Sempre conversei com ela e, naquele dia, me deu uma vontade de perguntar... onde você escondeu essa mulher linda todo esse tempo? Vestida pra ginástica em uma tarde que o tempo virou, você não é daqui né? Não trouxe nem uma jaqueta? Vai passar frio mulher!  Eu não fumo, mas ali com a amiga eu fumo. Adivinho signos, gosto de adivinha-los porque

O monoteísmo como contrareligião

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 "Diferente de Moises, Aquenaton, Faraó Amenofis IV, foi uma figura exclusivamente histórica e não de memória. Logo após sua morte, seu nome foi apagado da lista dos reis, seus monumentos foram destruídos, sua palavras e representações foram destruídas, e quase todo traço de sua existência foi apagada. Por séculos ninguém sabia dessa extraordinária revolução. Até sua redescoberta no século 19, praticamente não havia memória de Aquenaton. Moises representa o caso reverso. Nenhum traço de sua existência histórica jamais foi encontrada." Jan Assmann  Meu interesse por Jan Assmann surgiu em uma leitura de O Zelo de Deus, uma crítica do monoteísmo empreendida por Peter Sloterdijk, quando este autor elogia a competente reconstrução da história egípcia feita por Assmann em sua obra Moisés o egípcio. O monoteísmo, junto com o mal e o pecado original, estão bem no centro da minha investigação particular.  Por que essa obsessão pelo monoteísmo? Eu sinto uma raiva abissal pelo pensament

Por um encontro possível

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Foto de uma escola canadense criada para "aculturar" crianças indígenas    "Você já sabe o suficiente. Eu também. Não é de conhecimento que precisamos. O que está faltando é a coragem para compreender o que nós sabemos e tirar conclusões." ― Sven Lindqvist, Exterminate all the Brutes - livro tema do documentário Exterminem todos os brutos de Raoul Peck (HBOmax)  Quando os colonizadores chegaram na costa das Américas, ocorreu um grande desencontro. Os europeus entenderam que estavam diante de uma grande oportunidade de negócios, uma Índia elevada a décima potência que poderia dar aos colonizadores vantagens comerciais incalculáveis. Os povos originários foram chamados de índios - um nome genérico. Dali em diante seriam todos um povo exótico, um estorvo colocado entre os europeus e seus produtos. Os índios não foram encontrados, foram dizimados. Seria como a gente andando na rua e cumprimentando alguém que sorri, porém, para uma pessoa atrás da gente. Quando alguém me

A conversão sádica do capitão

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Quando o filme tropa de elite foi lançado em 2007 eu estava saindo da escola militar e iniciando a carreira como sargento da aeronáutica. Pude ver ao vivo a transformação do filme concebido como crítica, para o seu oposto - um filme que exaltava o sadismo como política de segurança pública. Essa transformação me parece pouco explorada, ambígua, e a sequência me pareceu uma forma de corrigir a trajetória estranha do primeiro, porém, o estrago já estava feito. Todas as cenas de tortura policial eram recebidas com celebração, "vou colocar você no saco" e "não atira na cara para não estragar o velório" se tornaram brincadeiras comuns. O vocabulário militar do zero um, aspira, a pica não é mais minha, entuba, etc. se tornaram expressões populares. A cultura militar atingiu o grande público e isso me parece clarear nossa dificuldade em construir uma cultura menos violenta. O grande público respira violência, e a ingenuidade está do lado da elite intelectual que imagina po

A pele ultrapassa toda perfeição

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Newton - William Blake Me impressiona o quanto as religiões negligenciam o corpo.  Desde que me tenho por gente, vejo mandamentos, regras, alertas, anunciando o quanto o corpo é mesquinho, maligno, egoísta, selvagem, pecaminoso, desorganizador... sendo o responsável pela queda humana em um mundo de corrupção e morte. A lógica básica dessa ideia vem de Platão quando indica que as coisas físicas são mais imperfeitas, enquanto que as ideias estão em um plano mais alto, sublime, perfeito e imutável. A partir de Platão, pensamos que os problemas de nossas vidas se explicam por uma submissão da mente aos imperativos da corporalidade, fazendo descer à Terra corrupta os altos desígnios da mente racional. Fosse o humano regido pela verdade racional, nenhum crime faria sentido, não teríamos que lutar por uma integridade de caráter. A beleza e a virtude seriam qualidades universais. "Ora, a alma pensa melhor quando não tem nada disso a perturbá-la, nem vista nem o ouvido, nem dor nem prazer

Vamos de novo!

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"Bem aventurados os esquecidos, pois tiram maior proveito de seus equívocos" "Takver acordou ao amanhecer. Apoiou-se no cotovelo e olhou para o quadrado cinza da janela, depois olhou para Shevek. Ele estava deitado de costas, respirando tão calmo que seu peito mal se movia, o rosto um pouco jogado para trás, distante e circunspecto, na luz fraca. Nós viemos, pensou Takver, de uma longa distância um para o outro. Sempre foi assim. Atravessamos grandes distancias, longos anos, abismos de probabilidade. É porque ele vem de tão longe que nada pode nos separar. Nada, nem as distâncias, nem os anos podem ser maiores do que a distância que já existe entre nós, a distância de nosso sexo, a diferença de nosso ser, nossas mentes; essa lacuna, esse abismo que transpomos com um olhar, com um toque, com uma palavra, a coisa mais fácil do mundo. Veja como ele está longe, adormecido. Veja como ele está longe, ele sempre está longe. Mas ele volta, ele volta, ele volta..." Ursula K

Abraçando ilusões

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A Sacerdotisa no tarô de Crowley "são ilusões, realizações dos desejos mais antigos, mais fortes e mais prementes da humanidade, e o segredo de sua força está na força desses desejos. Já sabemos que a apavorante impressão do desamparo infantil despertou a necessidade de proteção – proteção através do amor –, que é satisfeita pelo pai; a percepção da continuidade desse desamparo ao longo de toda a vida foi a causa de o homem se aferrar à existência de um outro pai – só que agora mais poderoso." O futuro de uma ilusão Quem me acompanha nessa vida sabe que eu trabalho pela construção de uma nova espiritualidade e que não me canso de criticar a depressão espiritual que chamamos ceticismo. Também é um divertimento pegar a racionalidade moderna pelo pé antes que ela saia triunfante da sala.  Neste post, gostaria de compartilhar minhas primeiras ideias sobre o papel da ilusão em nosso desenvolvimento emocional e seu papel no estabelecimento das relações, tanto entre pessoas quanto e