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Mostrando postagens de maio, 2012

O véu de Eros

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Quem é o "outro" para quem aperta o gatilho? Assistindo o café filosófico da semana passada, cujo tema era o ódio e a xenofobia na Europa contemporânea, o palestrante Dante Claramonte Gallian usou uma figura interessante para ilustrar a ideia do ódio retirada de um livro do sec. IX chamado O Peregrino Interior. O personagem principal guiado pela Sabedoria avança pelos meandros da alma humana e se depara com um personagem, o cupido de olhos vendados. Diante desta figura, o peregrino pergunta a Sabedoria: não é este o amor? Por que está vendado? A Sabedoria diz: cuidado... este é, na verdade, o ódio. Esta figura é utilizada para afirmar que o ódio não se constitui como antítese do amor e não deve ser considerada como uma paixão puramente negativa, mas como o “amor vendado” pela ignorância. Assim, odeia-se o estrangeiro porque desconhecemos sua história, o que pode ser trabalhado pelo desvelamento de suas origens, o argumento do palestrante aponta para o conheciment

Todo homem trai

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Trecho do filme "Desconstruindo Harry" põe a questão: Quem está fora de foco, nós ou o resto do mundo? Discuti com amigos na mesa do almoço o assunto “todo homem trai”, um tema muito interessante, diga-se de passagem. Poderia perder varias páginas comentando este tema, todas as nuances preconceituosas que acreditamos ser “naturais”, etc. Mas não vou. Quero discutir outro tema, que a meu ver, é bem mais interessante: a vontade de generalizar. Essa vontade que nos domina, que chega de mancinho e acaba infestando toda nossa alma. A vontade de generalizar é aquela que esta por trás de comentários como... “nenhum homem presta” ou “toda mulher gosta de cara com carrão” ou “todo político é corrupto” ou “todo japonês tem..” aham, quero dizer “ todo japonês é inteligente”, escondem algo que não admitimos para nós mesmos e se manifesta por uma mania de se antecipar ao inesperado, determinando com antecedência tudo o que devemos esperar das pessoas que “enquadramos” ness

O sem razão que nos une

Ontem eu fui a um colóquio, na Sociedade Brasileira de Psicanálise, sobre Relações Familiares na Atualidade. A primeira conferência foi com os psicanalistas Rodolfo Moguillanski e Silvia Liliana Nussbaum, da Asociación Psicanalítica de Buenos Aires e, como foi a mais interessante, vou falar apenas dela. A primeira fala, do Rodolfo, tratou do campo específico de interesse da psicanálise vincular (ou seja, dos vínculos entre as pessoas, mais do que de cada indivíduo envolvido neles): o sem razão que une, o amor. Vou dividir com vocês o qu eu ouvi, tá? Aí pensamos a partir disso. Supor o encontro amoroso como possível é uma construção muito recente. Até o século XX, nem o casal e nem a família encontravam o seu fundamento no amor. Isso foi imaginado pelo Romantismo, no XIX. E a possibilidade do encontro amoroso, no XX, coincide com a emancipação da mulher. Sem casamentos arranjados e com as mulheres livres para poderem escolher, o insondável do amor, então, passou a dar as cartas e se

Conversar pra variar

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                      Charlie Brown, Linus e Lucy Mais uma noite de sábado se aproxima, e eu me lembro que a algum tempo eu não sinto mais aquela angústia de ficar em casa, sozinho. Ia me sofrendo aquela sensação de estar perdendo algo, como quando a gente é criança e fica de castigo, na janela, vendo os outros brincando... eu pulava a janela e ia brincar, minha mãe ficava brava! Depois meus amigos iam me avisando.. ihhh sua mãe tá te procurando! Aiai, sabia que ia levar uma surra -   seguia em frente. As vezes acontecia de ela ter que sair, daí a surra era adiada...rs Voltando a nossa historia, quando chegava o final de semana sempre rolava uma expectativa, um friuzinho na barriga.. será que vou encontrar alguém interessante por ai!? Na dúvida, me arrumava, achava um condenado com a mesma expectativa e ia pra rua. Beber, dançar, chavecar.. uhu! Nada melhor, se encontrasse uma garota, melhor ainda. Difícil era equilibrar todas as variáveis, geralmente bebia demais... da

O problema da repetição

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Em minhas aulas sobre Deleuze, o professor Vladimir Safatle comentou a perspectiva estética que existia na obra Diferença e Repetição. Utilizando obras de Andy Wahroll, Safatle explicou como a disposição repetitiva de fotos de objetos e cenas chocantes acabavam por causar o efeito contrário: a indiferença. Esse efeito paradoxal pode ser explicado pela idéia de simulacro advinda da filosofia platônica, pois quando um artista reproduz uma figura natural está tomando como referência uma imagem que não é a origem da representação, pois uma cadeira é um objeto(sensível) que concretiza a idéia “cadeira”, fechando a relação idéia-ideado. Quando criamos uma terceira imagem, nós quebramos esta relação de representação e produzimos um simulacro, algo que não guarda mais a correlação imagem-objeto, produzimos uma "imagem da imagem". O resultado da composição de inúmeras imagens dispostas repetidamente parece aturdir nossa sensibilidade, deslocando nossa percepção para o vazio da i

Pra que palavras?

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Hoje fui ao MASP e pude ver a galeria PIRELLI, de todos o que eu mais curti foi o Otto Stupakoff. Deixo-lhes esta singela amostra... Homenagem a Balthus , 1991 Nova Iorque gelatina / prata tonalizada 22,5 x 34,0 cm (28,2 x 35,3 cm) © Otto Stupakoff. Todos os direitos reservados. Reprodução proibida. Xuxa, Copacabana Palace , 1985 Rio de Janeiro, RJ gelatina / prata tonalizada 34,0 x 23,0 cm (35,3 x 28,0 cm) © Otto Stupakoff. Todos os direitos reservados. Reprodução proibida. Tahiti , 1992 gelatina / prata tonalizada 10,0 x 13,0 cm (25,2 x 20,4 cm) © Otto Stupakoff. Todos os direitos reservados. Reprodução proibida. Salvador , 1978 gelatina / prata tonalizada 17,0 x 25,2 cm (27,7 x 35,5 cm) © Otto Stupakoff. Todos os direitos reservados. Reprodução proibida. Ian , 1963 São Paulo, SP gelatina / prata 35,0 x 55,0 cm (50,0 x 60,0 cm) © Otto Stupakoff. Todos os direitos reservados. Reprodução proibida. Medusa , 1987 Nova Ior

Quem é você?

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Nossas experiencias ligadas pelo fio de nossa identidade. Em que momento conseguimos olhar as pessoas que nos aparecem na vida, enxergando o que lhes pertencem, em sua singularidade – nunca. Isso porque nossos olhos apenas participam de algo que é composto – a visão. Assim, quando pensamos ver fulano, vemos, na realidade, apenas uma história de nossa afecções, uma história construída pelas nossas vivências mais primárias, pelos aromas mais longínquos. Tal pessoa nos agrada por que ela coincide com uma série de marcas deixadas por outras coisas, que provavelmente nunca conhecemos direito, mas que nos trouxeram um bem estar, um prazer. Tal coincidência é uma felicidade, pensamos: como é bom encontrar fulano! Essa pessoa combina comigo..rs Mas será que não estamos combinando com a gente mesmo!? Não estamos construindo um grande jogo no qual as pessoas se transformam em peças, ou personagens, servindo a uma memória primitiva de afetos que direciona nossas decisões e frequen