O problema da repetição


Em minhas aulas sobre Deleuze, o professor Vladimir Safatle comentou a perspectiva estética que existia na obra Diferença e Repetição. Utilizando obras de Andy Wahroll, Safatle explicou como a disposição repetitiva de fotos de objetos e cenas chocantes acabavam por causar o efeito contrário: a indiferença. Esse efeito paradoxal pode ser explicado pela idéia de simulacro advinda da filosofia platônica, pois quando um artista reproduz uma figura natural está tomando como referência uma imagem que não é a origem da representação, pois uma cadeira é um objeto(sensível) que concretiza a idéia “cadeira”, fechando a relação idéia-ideado. Quando criamos uma terceira imagem, nós quebramos esta relação de representação e produzimos um simulacro, algo que não guarda mais a correlação imagem-objeto, produzimos uma "imagem da imagem".

O resultado da composição de inúmeras imagens dispostas repetidamente parece aturdir nossa sensibilidade, deslocando nossa percepção para o vazio da imagem em si, estes quadros revelam que o uso de nossa linguagem possui limitações intrínsecas que, quando ignoradas, acabam por esvaziar o conteúdo de nossa expressão.

Twelve Eletric Chairs (1964/65)
Five Deaths Times Eleven in Orange (1964)
Digo essas coisas porque cheguei em casa ontem e a TV estava ligada no programa “Casa Bonita”, com todas aquelas garotas marombadas, piercing no mamilo e afins. Deixei a TV(depois de meia hora babando, é... assisti memo!..rsrs) e fui fazer as minhas coisas, mas uma idéia ficou: será que não estamos saturando nossa linguagem? O amor, misturado a toda essa orgia sensualista, não esta se esvaziando? Eu acredito que estamos nos aproximando de um ponto limite. Usamos e abusamos de nossa razão, construímos um império da consciência, implementamos avanços tecnológicos inimagináveis em um curto período de tempo, mas não conseguimos nos livrar desta sensação incômoda: ser como náufragos sedentos em alto mar.

Roberto Setton - UOL
Andy Warhol temia perder o significado das coisas pelo simples fato de olhá-las por um longo período de tempo, enquanto isso, buscamos encontrar o significado de nossas existências dentro dos simulacros que a nossa cultura nos oferece. Gosto de bundas, não quero apresentar uma crítica puritana a essa altura do campeonato; só lamento que o desdobramento dos modelos de comportamento que estamos patrocinando (esse eloquente exemplo ai de cima) venham a consumar um grande tiro no pé no que diz respeito as nossas necessidades afetivas.

Este processo de desertificação, de esvaziamento, tende a isolar aqueles que não se inserem neste modelo de cultura e o pior, não possui contrapontos, já que a padronização de homens e mulheres como itens de consumo é coerente com os valores que cultivamos, da religião à nossa sexualidade.

À você, que possuí um coração vasto, que não consegue mensurar o que se passa na sua alma, frequentemente mal interpretado, pois as palavras deixam seu significado escorrer quando saem de sua boca... à você que entende que repetição é esvaziamento, que se parece com um personagem do Graciliano Ramos - deixo estas palavras: vamos cultivar a diferença..deixe ela vicejar, seja um oasis!     







Comentários

  1. Nossa!! Minha leitrua ficou atrasada mesmo, hein!
    Bom este post dispensa comentários... não quero me tornar repetitivo! rs

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    Respostas
    1. eu estou gostando de escrever... parece q estou conseguindo lidar melhor com minhas próprias questões e até mesmo vislumbra-las com mais clareza. agora só falta os comentários! haiuhaiuahiauhaiuha

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