Quem é você?
Nossas experiencias ligadas pelo fio de nossa identidade. |
Em que momento conseguimos olhar as pessoas que nos aparecem
na vida, enxergando o que lhes pertencem, em sua singularidade – nunca.
Isso porque nossos olhos apenas participam de algo que é
composto – a visão. Assim, quando pensamos ver fulano, vemos, na realidade,
apenas uma história de nossa afecções, uma história construída pelas nossas
vivências mais primárias, pelos aromas mais longínquos. Tal pessoa nos agrada
por que ela coincide com uma série de marcas deixadas por outras coisas, que
provavelmente nunca conhecemos direito, mas que nos trouxeram um bem estar, um
prazer. Tal coincidência é uma felicidade, pensamos: como é bom encontrar
fulano! Essa pessoa combina comigo..rs
Mas será que não estamos combinando com a gente mesmo!? Não
estamos construindo um grande jogo no qual as pessoas se transformam em peças,
ou personagens, servindo a uma memória primitiva de afetos que direciona nossas
decisões e frequentemente nos coloca em situações delicadas... um móbile
gigante de personagens capaz de nos manter felizes, longe de qualquer
desilusão.
Isso ocorre, segundo Espinosa, porque nossa memória é
constituída por imagens advindas de nosso corpo em interação com a
exterioridade, logo, quando um legionário romano vê um rastro de cavalo, ele
imagina uma batalha da qual participa uma cavalaria, enquanto um camponês,
vendo as mesmas marcas, imaginaria um arado, pastos, etc. Nossa imaginação e
nossas memórias percorrem o caminho das “marcas” deixadas por nossas vivências
e hoje, mais do que nunca, como participamos de uma febre da fruição do aqui e
agora, irrefletidamente embarcamos em um jogo de enquadramentos que exclui o
que nos é estranho, agressivo e exuberante... podamos as pessoas e os encontros
a nosso gosto, transformando a experiência de nossos dias em um jardim
domesticado, pacífico, sem arestas.
Quando vivemos irrefletidamente, trilhamos os caminhos conhecidos, para bem e para mal...Mas o que seria você, ser estranho que existe agora ao meu lado?
Nunca saberei.
Este quadro de Picasso, chamado de Mulher em frente ao espelho-1932, expressa um momento em que o pintor se isola em um castelo com sua musa, Marie-Thérèse Walter. Percebe-se que apesar de praticamente ter inventado o cubismo, a obra apresenta muitas curvas, o que nos indica que suas musas participam ativamente da construção de sua identidade artística, o que eu chamaria de relacionamento efetivo. Interessante notar também o tema - o espelho, onde podemos contemplar a face mais obscura e intensa de nossa identidade, o que, juntamente com a fusão dos planos, nos apresenta esta grande ilusão que chamamos experiência sensível. A realidade que julgamos "exterior", as pessoas que julgamos "outros", aparecem como um grande móbile de nosso próprio corpo afetivo.
Nossa! Tá produzindo, hein!?
ResponderExcluirEu não tô com tempo nem de acompanhar... rs
Muito bom o texto.
Uma bela observação sobre algo completamente factual e comumente ignorado.
Nossa!! Como nos amamos!!!
to escrevendo... assim poupo as pessoas que convivem comigo de ter que ouvir minhas ladainhas.kkkk
Excluirkkkkkkkkk
ExcluirUm dia meio sem querer vi algo sobre a Madre Teresa... ela dizia assim ou mais ou menos assim:
ResponderExcluirA pessoa mais importante do mundo é aquela com quem você está falando no presente momento...
Se você vive julgando as pessoas, não tem tempo para amá-las...
:D