Conversar pra variar
Charlie Brown, Linus e Lucy |
Mais uma noite de sábado se aproxima, e eu me lembro que a algum
tempo eu não sinto mais aquela angústia de ficar em casa, sozinho. Ia me
sofrendo aquela sensação de estar perdendo algo, como quando a gente é criança
e fica de castigo, na janela, vendo os outros brincando... eu pulava a janela e
ia brincar, minha mãe ficava brava! Depois meus amigos iam me avisando.. ihhh
sua mãe tá te procurando! Aiai, sabia que ia levar uma surra - seguia em frente. As vezes acontecia de ela
ter que sair, daí a surra era adiada...rs
Voltando a nossa historia, quando chegava o final de semana sempre
rolava uma expectativa, um friuzinho na barriga.. será que vou encontrar alguém
interessante por ai!? Na dúvida, me arrumava, achava um condenado com a mesma
expectativa e ia pra rua. Beber, dançar, chavecar.. uhu! Nada melhor, se
encontrasse uma garota, melhor ainda. Difícil era equilibrar todas as variáveis,
geralmente bebia demais... daí sobravam as historias pra contar, micos e afins,
mas conhecer gente nova assim, “na mão do Baco”, ficava difícil.
Volta e meia o destino nos sorri, ou nas minhas palavras... um
dia todo mundo erra, inclusive aquela garota maneira, assim, o importante era
estar lá...rs o que acontece é que esse jogo de expectativas e frustrações
começa a se repetir e em um determinado momento percebemos, ou não, que nossa
felicidade não pode mais depender de coincidências. Esperar encontrar alguém
interessante em uma balada, na minha humilde opinião, é querer demais. Não que
eu tenha me tornado pessimista, mas é que o ambiente não ajuda... só isso. As
pessoas que se dirigem pra um ambiente desses geralmente possuem expectativas
demais, por isso elas se arrumam dos pés à cabeça, pois no final das contas
elas precisam agradar. Ai toda espontaneidade foi pro brejo.
Ficamos, ficamos, ficamos... vazios.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
(Trecho do poema de sete faces
– Carlos Drummond de Andrade)
Eu, habitante deste minúsculo planeta vagante, que saio à
noite de vez em quando pra beber e trocar umas ideias, cumprimento a lua e percebo
que as pessoas interessantes andam ressentidas, acuadas diante de tantas pernas
de fora, destes perfumes que arrombam nosso sossego, dessa gritaria... Um dia
estava conversando com uma garota, um amigo me perguntou: ai você tá afim dela?
Eu disse: oia... eu gosto de conversar!
Conversar é fina arte de apreciar personalidades, de descobrir histórias, opiniões
excêntricas, de rir e, é claro, apreciar aquela garota que sabe prender os
cabelos de um jeito que você não entende e deixa a blusa estrategicamente
desabotoada... bom, antes que eu fique completamente contraditório, celebremos
a diversidade... conversando!
Conversar com você faz bem para a alma, Paulo.
ResponderExcluirConversar com você faz bem para a alma, Paulo.(2) rs
ResponderExcluirCara, esse post foi excelente, hein?!
Escreveu com a alma!
Que post espontâneo!!!!
ResponderExcluirRetorno pra vc, com este poema do mesmo Drumond que citou, postei hj no meu face...
E... viva a conversa e chega de ficar... vazios... :D
Carlos Drummond de Andrade
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho,
e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor à procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.
belo poema josi! assim o blog fica mais vivo...obrigado!
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