Existe vida além da prosa

Mafalda - tirinha chupada do Google

Acabo de pesquisar um título indicado pelo ilustre filósofo careca com óclinhos de armação cool, Pondé, e me espanto com o preço da obra: $ 9,89 na Amazon. O livro se chama Best American Essays 2013, tem trezentas e tantas páginas e deve ser uma boa leitura. Agora, eu olho qualquer livraria de nossas bandas e percebo que os títulos começam a 30 paus. É difícil gostar de ler por aqui.

Outro ilustre filósofo colunista da Folha, Vladimir Safatle, diz que os partidos de oposição não estão aproveitando a onda de protestos que estão fervilhando pelas capitais, construindo seus discursos em torno de temas descolados das últimas reivindicações da população. A educação, para os políticos, é uma questão de ajustar a porcentagem do pré-sal... já que o povo insiste, 20%! Melhor, 30%!!!

Tá bom pra vocês?

As coisas aqui andam de lado. Todo mundo sabe que educação é uma prioridade, mas eu não vejo nada de diferente acontecendo ao meu redor, não sinto diferenças em ações do governo ou da população no sentido de revolucionar ou de construir um ensino de qualidade. Os professores estão se matando em greves, a USP tem a reitoria invadida todo semestre, e as críticas aos protestos indicam sempre uma espécie de "deixa disso", como se dentro da normalidade fossemos capazes de alavancar nossa educação... é apenas uma questão de tempo...

Outro dia vi uma coluna no Gustavo Ioschipe, onde ele argumenta que os salários dos professores não são tão ruins, se comparados com a defasagem de folha de pagamentos entre o Brasil e a média dos países desenvolvidos. Segundo ele, um médico no EUA ganha 10X, aqui no Brasil ganha X, logo, se um professor ganha X/10, deve ser porque no exterior um professor ganha X! Tá tudo certo, e que os professores estão reclamando de boca cheia, afinal, se eles fossem ganhar por produtividade estariam perdidos. Esse artigo foi publicado na semana do dia dos professores.

"Se usarmos o critério de produtividade e renda nominal para balizar a remuneração dos nossos profissionais da educação, a conclusão inescapável é que o professor brasileiro ganha demais em relação ao que entrega." 
http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/gustavo-ioschpe-seu-valor-e-determinado-por-seu-salario

Neste artigo, ele critica o blefe do governo que quer consagrar uma porcentagem maior do pré sal para a educação. Agora, me surpreendeu mais a ginástica argumentativa que provou que o professor ganha bem, uma ginástica digna de qualquer circuito fitness, do que sua proposta para melhorar a educação, que soçobrou no último paragrafo.

E a pérola do Vale-Cultura? Segundo o site do Portal Brasil, o trabalhador vai receber um cartão magnético com 50 mangos pra gastar com teatro, cinema, comprar livros!!!!!

Eu acho vivemos um clima de esculhambação geral que dificulta qualquer discussão séria. Daí o Pondé começa a falar que os protestantes são ególatras disfarçados de missionários da revolução, daí os protestantes esculhambam a palestra do Pondé...falta pouco pro samba do criolo doido.

E você.. o que propõe para resolver esta questão? A questão da educação?

Este final de semana, contemplei uma aula sobre poesia de um professor da USP chamado Alcides Villaça. Nunca na minha vida assisti uma aula tão cativante sobre o tema e sofri(sofro até agora) o fato de nunca ter tido um professor que me revelasse com tanto prazer este universo novo. Falta poesia em nossas escolas, em nossa vida, em nossa política, em nossos amores, em nossa economia, nas coisas mais ínfimas - este é o meu diagnóstico.

Por isso é difícil ao brasileiro escapar um milímetro que seja das perspectivas de nossos colunistas super instruídos, não temos saída a não ser suportar o fato consumado - a literalidade!

Mas anseio, com dores de parto, que esta perspectiva mude. Avanço comprando livros caros, aguardando anualmente feiras do livro, baixando PDF, pegando emprestado, tirando xerox, ouvindo amigos e amigas, recebendo convites de grupos de estudo... Agradeço a todos vocês que trouxeram de alguma maneira um pouquinho de poesia à minha vida! Ainda que eu demorasse em devolver os livros emprestados...rs

Sem poesia
nunca ultrapassaremos
a prosa bem escrita
de nossas colunas jornalísticas









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