Relato de um sonho

São quatro e quarenta e oito
Penumbras rastejantes
Agarram minhas pernas
Braços e rosto
Lentamente

Os nãos de minha garganta
Alcançam os nãos de meu corpo
E aquela criança
Que tinha medo de agulhas
Grita também
E tudo isso é lágrimas
Em meu rosto enrugado

Estava a brincar e correr
Sobre uma planície alagada
Uma fenda cresce em abismo até o horizonte
E me arrasta junto as torrentes
Agarro-me à raízes
Sobre o vazio

Nada acontece
E a escuridão cria monstros
Não posso cair.
Aperto, com veias saltando
Em meu pescoço
Algumas certezas escorregadias

A força é tamanha
Que me impede o pensamento
Seria a vida,
Como um quadro de Caravaggio,
Uma agonia em claro-escuro
Suspenso nas encostas do vazio?

Esse pêndulo muscular
De tão urgente
Torna-se ele mesmo
Eterno
Oculto, sob a trama dos dias
Como um grito engasgado
Dentro dos metrôs
Às seis da manhã



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