Que pergunta é essa que eu carrego?

Acredito que todos carregam dentro de si uma pergunta e o amor seria despertado por uma resposta, vinda de alguém capaz de ouvi-la.

Existe no Gênesis uma historia que se parece com esse mistério. O Faraó convocou seus adivinhos para que decifrassem seu sonho, pois havia acordado muito abalado pelas visões que o acometeram. Chegando os adivinhos, todos ficaram desesperados porque o Faraó havia esquecido o sonho. Ele não queria apenas a explicação, precisava, também, descobrir com o que diabos havia sonhado e como incentivo determinou que, não revelado o tal sonho, todos os adivinhos deveriam ser mortos.

Isso é algo normal, sonhar com algo que nos marca, deixando um rastro emocional diferente, mas que não conseguimos precisar. Numa dessas o Faraó percebeu que aquele era o momento de por a prova seus adivinhos, e eu acredito que adivinho bom é aquele que não precisa de pistas..rs A pergunta esperada era: qual é a mensagem oculta no meu sonho? As coisas ficaram desesperadoras na segunda parte da pergunta... Como interpretar um sonho desconhecido?

Aqui o místico se revela como um diálogo entre partes de nosso ser que superam o consciente, que brincam com esses elaborados esquemas que construímos para tornar as coisas mais domesticadas. O adivinho é esse ser elaboradíssimo, que está acostumado a respostas versáteis, relativismos adocicados... quem garante que a Bíblia é um livro sagrado? Ela foi escrita por várias pessoas em épocas diferentes, e, por fim, pode ser interpretada de várias maneiras...

Como o adivinho encontra o sagrado? Se, afinal de contas, tudo é interpretado, qual é a possibilidade de tocarmos o sagrado quando interpretamos um texto canônico sem que exista a possibilidade do engano?

Existem os adivinhos do amor, aqueles que acreditam entender da coisa e que sabem como um bom relacionamento deve acontecer. "A.. se você sente isso e faz aquilo, você realmente ama fulano", ou se "fulano fez isso ele não está afim de você", ou quando tudo parece estar indo mal uma discussão infinita toma conta do relacionamento, girando em torno de uma questão invisível, intangível, o adivinho pensa estar em terreno seguro e acredita que o amor é mais um tema sobre o qual ele poderá discorrer infinitamente. Quando um relacionamento está mal, necessariamente algo está fora do lugar e precisa ser corrigido.

Para o adivinho, precisamos elaborar e isso é suficiente para navegar o transcendente mundo - a metafisica. Daí surge uma pergunta um centímetro além de seu alcance: como interpretar um sonho que não se sabe? 

E se eu dissesse que todos nós temos uma pergunta dentro de nós, mas não sabemos qual é - o que faremos para responde-la? Como responder uma pergunta que bloqueia nossa mania de elaborar...essa pergunta faraônica?

 - Como você responde essa pergunta, meu amor?
 - Qual?
 - Não sei.

Na Bíblia o sonho é interpretado por José, filho de Jacó. Inclusive, Deus aparece neste momento, neste impasse dos adivinhos... quem sabe o amor não apareça num impasse? Nesta impossibilidade das adivinhações, das nossas costumeiras elaborações... Seria o amor a resposta de uma pergunta que não se sabe?

E acabamos por pisar novamente o terreno das histórias e das mitologias, onde todas as tarefas são impossíveis e as perguntas... insolúveis, ai nasce o mito.

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