Abraçando o que me resta


The establishing of truth in the work is the bringing forth of a being such as never was before and will never come to be again.
The Origin of the Work of Art - Heidegger

Ultimamente tenho lido alguns textos em inglês para exercitar meu aprendizado, aproveito esse post pra relaxar as ideias e lhes revelar alguns lampejos que ando mastigando em meus momentos livres.

Seguindo os passos iniciados no ano passado, venho lendo obras de Heidegger e Astrologia que encontrei por essas bandas e tenho recebido gratas ideias desde que me aproximei destes grandes temas.

A foto acima é uma coisa que eu tinha que fazer, porque umas semanas atras eu comi uma maçã muito boa, suculenta e fiquei muito feliz, felicidade boba sabe? Tipo a que o profeta Jonas sentiu quando a aboboreira lhe fez uma sombrinha, o homem ficou tão feliz que até mudou de ideia. Comecei a pensar na macieira produzindo frutos vermelhos, doces e em tudo que nós fazemos para consumir estes frutos, em toda cadeia logística que produz - distribui - vende... e o que sobra quando terminamos? Uma carcaça que escurece.

Eu fico intrigado com essa natureza que produz cores e sabores, mas não tem paladar nem olhos.

Curioso também é não comermos as sementes, ficamos na parte doce e jogamos fora o resto. Este resto seria a essência da árvore que, quando descartada, pode gerar uma nova árvore.

Pensando em tais relações insólitas, comecei a me bater com as ideias de Heidegger a respeito da arte tentando me aproximar de algo confortável, vejamos o que acontece.

Heidegger pensa o trabalho do artista como um esforço para trazer algo à existência de modo muito peculiar, um trabalho que se realiza no limite entre dois mundos, no limiar do vir a ser. Isto porque o que existe se estabelece em um conflito constante, ou um fluxo perene, entre ser e não ser. O artista seria aquele que abre caminho para que a verdade se atualize, ou seja, seu trabalho consiste em dialogar com algo ainda fora de nosso alcance, algo oculto. Heidegger cita Van Gogh como exemplo de artista que usa tintas para concretizar uma imagem, uma bota de um camponês, o que diante da história da arte não constitui um tema especial, mas o que torna este quadro magistral seria a expressão de uma verdade oculta sob o olhar do pintor.

O trabalho do artista é um esforço que visa revelar um conflito que ainda não se definiu, um confronto que é travado sob a superfície do que vivenciamos como realidade.

"Knowledge frequently results
from knowing others,
but the man who is awakened,
has seen the uncarved block."

Tao te ching, 33 - Without force: without perishing.

Arte não se resume a um conjunto de técnicas, ou talvez em um aprimoramento constante de obras anteriores. Arte é um trabalho de escuta e construção nunca concretizável, casado com uma precariedade de meios. Ando acreditando que a fotografia é uma arte peculiar e que a usamos para "abraçar" outras coisas. Em nossas fotos se revelam abraços, uma espécie de comunhão com o que acreditamos e desejamos. O trabalho fotográfico sempre se sentiu constrangido por uma "facilidade de meios", pelo "click" que qualquer um pode reproduzir, talvez agora isso não seja mais um problema.

O que colecionamos como imagens são os restos de realidade, vida, alegrias e expectativas... são o registro de nossa vontade de perenidade.









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