A deusa loira


Este é o sorriso de um homem feliz

Neste dia da mulher uma amiga me disse que se sentia contrariada, eu também me sinto. Não sei explicar porque, mas quem sabe neste post algo seja revelado.

Hoje parei em meu apartamento e decidi assistir um filme, “Os desajustados”, ele estava a muitos dias acumulando poeira sobre minha escrivaninha e hoje decidi dar-lhe uma chance. Por que hoje? Não sei. Só sei que me apaixonei por Marilyn, uma mulher que não deixa a peteca cair... literalmente.

E já que o dia é o dia de vocês – mulheres – por que não falar de Roslyn, a personagem que Marilyn encarna (um adjetivo mais que adequado para a situação) com uma doçura que entorpece, embriagando todos ao seu redor. Roslyn é uma mulher linda, separada e sem rumo quando encontra Gay Langland, um “cowboy” alérgico a trabalho assalariado, e seu amigo Perce, um veterano piloto de um avião bi-plano caindo aos pedaços. Roslyn é convencida por Gay a se mudar com ele para uma casa ainda inacabada no meio de um vale pedregoso em Nevada, iniciando uma série de cenas preciosas, únicas, onde a deusa loira revela todo seu esplendor. Descrevo-lhes algumas que me impressionaram.

Gay Langland é um cowboy casca grossa, mas faz o cafezinho da manhã, arruma a alvenaria da lareira, troca os móveis de lugar (infinitas vezes), planta hortaliças, florzinhas, tudo com um sorriso no rosto, basta Ela falar “nossa aqueles blocos de concreto seriam um ótimo degrau para nossa porta!” para que o cowboy saia trançando as pernas com os blocos de concreto nos lombos, acomodando-os em frente a porta de seu quintal. Quando termina, ela sobe e desce o tal degrau, divertida – olhe como ficou bom! – e nosso cowboy abre um sorriso de orelha a orelha.

Perce mostra um quadro em que posa ao lado da falecida mulher, contando como sua mulher era boa e como ela trabalhava bem, até ajudando a construir a casa, uma beleza de mulher! Nunca reclamava... Ao que Roslyn prontamente responde, com a doçura que lhe é própria: “deve ser por isso que ela morreu”.

Dentro de um bar lotado, Roslyn pega uma raquete com uma bolinha presa por uma tirinha de elástico de um velho bêbado que a desafia a conseguir dar 10 raquetadas, ela responde que é muito boa nisso e começa a performance graciosa... todos em coro começam a acompanhar a evolução da tenista.. Um! Dois! Três! Após alguns momentos as pessoas começam a pagar para ver o espetáculo da Vênus rebolante desferindo suas raquetadas e, como era de se esperar, um velho começa a bulinar a moça... daí se forma o barraco.

Retornando de um rodeio, em meio a três homens bêbados, Roslyn tenta apaziguar as mágoas de seu cowboy, implora para Perce dirigir devagar, coloca outro pra dormir... sendo assediada por todos, a deusa loira manobra o orgulho de seus homens com muito tato, colocando-os delicadamente em um lugar seguro. Depois de colocar seu cowboy para dormir ela vai para fora da casa e deixa escapar um “socorro” embargado... sufocado.   

Por fim, a deusa loira revela toda sua magnanimidade ao contemplar um cavalo selvagem sendo capturado por Gay - com lágrimas nos olhos, ela esbraveja, grita... açougueiros! Sangue! Vocês estão cobertos de sangue!
Após este espetáculo, Gay, o cowboy, representando toda uma classe, responde: Estou fazendo o que eu sempre fiz, eles serão mortos para fazer ração para cachorro. Você mesma comprou ração, você não tinha pensado nisso?

 - Não quero saber!

Perce fala ao amigo aturdido: Todas elas são loucas, nos prendem, nos dominam com seus caprichos! Eu carrego as marcas!

O final, bom, o final eu deixo pra você desfrutar quando assistir...rs é muito show, intenso, como nenhum blockbuster anabolizado jamais conseguiu ser.

A deusa quer o impossível, exige! O que podemos fazer senão sacrificar a esta divindade encantadora!? Abandonamos o catolicismo, construímos um Taj Mahal, ouvimos puts puts, ganhamos dinheiro, colocamos o sofá do outro lado da sala, tudo para agradar esta divindade misteriosa, um aquífero de desejos – A Mulher.

Por isso eu fico contrariado por desejar-lhe um feliz dia da mulher, soa estranho... afinal, te adoramos todos os dias.

Feliz dia da mulher!



Obs: Clark Gable teve um infarto três dias depois de filmar “Os Desajustados” e morreu onze dias depois.

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