A Jornada do herói - Joseph Campbell


A jornada do herói como descrita por joseph Campbell é uma das coisas mais lindas que eu já vi. Por isso, seu herói de mil faces é um dos meus livros favoritos, está do ladinho do mulheres que correm com lobos como os dois livros que me conduziram por transformações e histórias maravilhosas. A questão agora é saber como colocar isso aqui em um post. Estou com o livro aqui do meu lado, lendo e lembrando dos lugares em que li essas histórias antes. Esse livro eu nunca comprei, lendo-a em bibliotecas, gosto de decorar os lugares em que ele fica, as prateleiras, as vezes fico lá agachado lendo até os pés adormecerem.

Estava na pegada de escrever sobre histórias que nos ajudam a encontrar o caminho e falei sobre o conto Zen do pastor e do boi. Acontece que o livro do Campbell contém várias histórias e o jeito que ele conta cada uma é único, parece soprar vida nos símbolos empoeirados. Sinto como se ele conseguisse tocas as notas que harmonizam e reverberam os mitos através de nossas vidas. Por isso acho que o Campbell deveria ser matéria obrigatória em qualquer curso - precisamos entender o que é uma metáfora.

Existe um video do Ted talk que resume a jornada do herói em poucos minutos. Eles separaram todas as etapas em doze e narram como o avançar das horas. Eu usava como apoio para dar aulas de inglês, creio que os alunos gostavam..rs  Esse video é bem legal, no final eu coloco o link para vocês.

"Já não existem, exceto em áreas inexploradas, sociedades isoladas, limitadas em termos oníricos no âmbito de um horizonte mitologicamente carregado. E, no interior das próprias sociedades progressistas, todos os últimos vestígios da antiga herança humana do ritual, da moralidade e da arte se encontram em pleno declínio.
O problema da humanidade hoje, portanto, é precisamente o oposto daquele que tiveram os homens dos períodos comparativamente estáveis das grandes mitologias coordenantes, hoje conhecidas como inverdades. Naqueles períodos, todo o sentido residia no grupo, nas grandes formas anônimas, e não havia nenhum sentido no indivíduo com a capacidade de se expressar; hoje, não há nenhum sentido no grupo - nenhum sentido no mundo: tudo está no indivíduo." Herói de mil faces - pg 372

A grande sacada de Campbell foi comparar a jornada do herói à jornada do homem contemporâneo em direção ao seu inconsciente, logo, a viagem, antes geográfica e terrena, se torna interior, rumo ao ser desconhecido que nos habita. 

Na falta de uma crença comum que consiga coordenar nosso sentido de existência, devemos, agora, descobrir um sentido singular que nos habita, por isso o apelo ao inconsciente. Esse é um pouco semelhante ao caminho que a astrologia vem tomando, pensando os planetas, seus aspectos e casas, como âmbitos singulares da psique. 

"O ascetismo dos santos medievais e dos iogues da Índia, as iniciações nos mistérios helenísticos, as antigas filosofias do Oriente e do Ocidente são técnicas para levar a consciência individual a retirar a ênfase das vestes. As meditações preliminares do aspirante afastam-lhe a mente e os sentimentos dos acidentes da vida, levando-o ao ponto essencial. 'não sou isto, nem aquilo', ele medita, 'não sou minha mãe, nem meu filho que acabou de morrer; nem meu corpo, que está enfermo ou velho; nem meu braço, meus olhos, minha cabeça; nem a soma de todas essas coisas. Não sou meu sentimento, nem minha mente, nem meu poder de intuição'. Por meio dessas meditações, ele é levado às suas próprias camadas profundas e termina por alcançar imperscrutáveis percepções. Não há quem possa retornar desses exercícios e levar a sério o fato de ser o sr. Fulano de tal, de tal cidade dos Estados Unidos. - A sociedade e as obrigações ficam de lado. O sr. Fulano de tal, tendo descoberto seu próprio potencial, volta-se para dentro de si e se distância." Herói de mil faces - pg. 371

Esse é o caminho trilhado por Krishnamurti em seu mutação interior, quando ressalta que não é mais o tempo para esperarmos que a sociedade venha a operar alguma revolução relevante, mas que isso deve ocorrer no coração do indivíduo. Quando dizem que deus está morto, também está implícito que a sociedade está morta e que não possui mais nenhum poder de articulação, nenhuma capacidade de mudar a realidade. As alternativas políticas reforçam o status quo, nada parece ser realmente novo, ou carregar alguma potência vital. Todos os clamores populares parecem mendigar por um estado de coisas que já não faz mais nenhum sentido - o coletivo está morto, junto com a nossa capacidade de interpretar os grandes mitos. 

Isso me faz pensar que os mitos, como os extintos dinossauros, não caminham mais sobre a Terra, restando apenas o microcosmo do indivíduo e seu inconsciente. Isso é tudo o que nos resta. 

Vendo o video, você poderá perceber como todos os heróis possuem uma narrativa básica que os organiza e os aproxima da jornada que cada um de nós precisa empreender para encontrar seu caminho nesta vida. Tudo parece seguir um roteiro parecido, e a mensagem final procura nos encorajar a enfrentar nossos medos para encontrar a chave de nosso sentido de viver, como se a resposta estivesse dentro da caverna que nos desperta os maiores temores.

Por isso adoramos as histórias dos heróis, porque eles parecem contar parte de nossa própria história de vida. Assim, nos identificamos facilmente com os dramas e alegrias do personagem que enfrenta terríveis monstros para restaurar a alegria que se perdeu depois que terríveis acontecimentos destruíram sua lar originário.  




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