À F, com amor.

Uma gravura de minha adorada Circe - chupada do Google imagens.
  
Acredito que as pessoas pensem muito melhor quando estão com ódio. Isso porque flui pelas veias uma energia aguda, penetrante, que polariza as fugidias palavras diante de um alvo claro e presente. A presença ou a figura ultrajante mobilizam com facilidade nossa capacidade argumentativa, recolhemos as memórias como peças de artilharia, quase com um sorriso nos lábios... ai é só apontar e falar.

Silenciosamente as palavras fluem, saem como flechas... fraturando, perfurando, arremessando nervos e ligamentos. Um espetáculo!

Sei que para o primeiro post de 2014 o tema não é leve, possui uma certa picância.

Amar é odiar - com gosto -  por isso vou lhes dizer algumas coisas que ando recolhendo nas minhas últimas leituras sobre o gênero feminino, dedico-os a uma adorada crônida com a qual tive o prazer de definhar alguns meses. Esta é uma manifestação tardia, eu sei, mas e daí? Será um tiro longo... vamos ver se consigo algum dano.

Ela adora falar de mim, com uma certeza inabalável. Freud disse que os histéricos sofrem de reminiscências...a garota em questão sofre de certezas, ela é solida como uma coluna de.. bom, continuemos. Começarei pelo Bukowski.

"As mulheres, por natureza, deixam-se atrair pela Mentira. De tal maneira que acabam ao final se casando para sempre com a Mentira"

Aí está uma pérola, uma reclamação gutural, quase um granido do velho safado. F(o f aqui é de vadia maluca) nunca acreditou em mim, isso porque eu não gostava de mentir. Ela adorava "descobrir" coisas da minha intimidade fuçando meu computador, câmera, armário, e como ela não encontrava nada comprometedor, ela realizava uma incursão ao meu passado, enfurecida, querendo que eu apagasse da minha memória tudo que não era de seu feitio - logicamente - casos antigos. Tudo isso porque existia em sua alma uma semente do capeta, a desconfiança, aliada com uma individualidade capenga, carente de uma pessoa rasa que lhe mantivesse de pé, a muletinha aqui, o que florescia em delírios e ataques de ciúmes que cansam até o mais apaixonado dos homens - que era o meu caso.

Se eu fosse um idiota desses que arquiteta boas histórias, que se rebaixa, ou que simplesmente caga pra isso e pega outras garotas e foda-se, ela estaria comigo até hoje e feliz. Desconfio que não consigo me relacionar muito tempo porque não me dou ao trabalho de mentir... acho isso desgastante, desperdiça o que de melhor um relacionamento tem a oferecer. Para mim, um bom relacionamento é quando os dois são cúmplices de uma mentira maior - o amor. É quando os dois mentem para o resto do mundo, enganam a ordem natural das coisas, que é justamente levar a vida em banho maria, essa puta falta de sacanagem que se tornou o sexo do orgasmo obrigatório.

Agora,  meu ilustre Erasmo de Rotterdam.

"Quando Plutão pareceu hesitar se devia incluir a mulher no gênero dos animais racionais ou no gênero dos brutos, não quis com isso significar que a mulher fosse um verdadeiro bicho, mas pretendeu, ao contrário, exprimir com essa dúvida a imensa dose de loucura do querido animal. Se, porventura, alguma mulher meter na cabeça a ideia de passar por sábia, só fará mostrar-se duplamente louca, procedendo mais ou menos como quem tentasse untar um boi, malgrado seu, com o mesmo óleo com que costumam ungir-se os atletas... E isso porque, segundo o provérbio dos gregos, o macaco é sempre macaco, mesmo vestido de púrpura. Assim também, a mulher é sempre mulher, isto é, é sempre louca, seja qual for a máscara sob qual se apresente."

Neste sentido, F sempre foi coerente. Ainda que nesta citação a Loucura elogie o feminino por linhas tortas, existe algo sob a neblina da sátira que pode, quem sabe, redimir minha querida F. Ela era espontaneamente louca, louca com desprendimento. Isso me encantou instantaneamente. A mulher que se controla é um bicho duplamente maldito, uma porque acaba se enfiando em uma vida cheia de coisas brochantes, o que ela no fundo odeia e por isso mesmo reclama, reclama...ad infinitum, a outra maldição é esse desejo bolofado guardado a sete chaves, que nunca vem a tona. O que resta? Um rascunho de vida, algo que nós, bichos homens, sofremos junto com a natureza inteira. Neste ponto, Deus olha do céu desgostoso...tsc,tsc Ok, que ressalva tenho contra F? Uma falta de amor próprio do caralho! Isso é triste. Acho F uma pessoa linda, em vários sentidos, mas ela é ignorante de sua própria geografia. Melhor para os trilhões de oportunistas bacanas que saberão tirar proveito disso.

Já para o bicho homem que ama... as batatas! Afinal, você está vinculado a uma pessoa que se sabota sistematicamente, que não se reconhece e não sabe se valorizar. Daí o passo seguinte é esperar de Você(o trouxa eleito) esse valor. Você acaba literalmente inflado(ou se enchendo de vazio) como uma boia salva vidas. Quando o amor se torna uma mera manipulação do Outro em sustento próprio, o amante se encontra em um mato sem cachorro, pois amar implica em uma abdicação total de sua individualidade em prol de uma felicidade, no caso a felicidade de F, que nunca chegará, você fica tipo um lusitano esperando D.Sebastião salvar a lavoura...rs Alimentar uma histeria é um trabalho de corno, isso porque, no final das contas, além de estar todo lascado, ainda saí como o Filho da Puta que destruiu seu projeto de felicidade.

Bom, meu final não foi nada virulento... como eu previa, mas escrever isto foi melhor que assistir o tempo e o vento.



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