O que é o Amor?

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"Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento.

E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes."
Marcos 12:30,31

Essa foi a resposta de Jesus quando questionado a respeito do maior mandamento. Escribas disputavam para colocar Jesus em contradição, descobrir alguma falha através de perguntas capciosas do tipo... você gosta do Lula? O que você pensa do Moro? Numa dessas, perguntaram qual era o maior mandamento. Eu acredito que amar não seja um mandamento, mas acho que Jesus respondeu assim para deixar acessível aos escribas o que ele acreditava ser importante. Em outras palavras, a lei não é mais relevante quando se ama.

Jesus amou tanto os escribas e fariseus que se pôs em silêncio e deixou que o colocassem na cruz. Jesus, como todo bom amante, entendia aquele jogo infantil de condenação, infinitos julgamentos, leis, sumo sacerdotes, imagino que em determinado momento ele deve ter pensando em falar uma blasfemiazinha só pra adiantar as coisas. Tipo.. Deixa eu adiantar isso.. ei fariseus.."Eu e o Pai somos um!"... opaaa vamos matá-lo! A condenação era a única forma de relação entre ele e os petrificados fariseus, era a única forma de ama-los. O copular do amor ocorre de várias formas, praticamente infinitas. Essa deve ser a alegria de Deus quando contempla nosso planeta, ver todos os seres copulando e criando rituais de acasalamento.

O que é amar? Ponha no Google...  você vai descobrir vários amores. Essa é a alegria do fariseu, descrever vários amores, várias formas de amar, o prazer de catalogar. Por isso, invoco aqui um homem anti Google... com vocês, Krishnamurti:

"Psicologicamente, nada do que a geração passada construiu merece ser conservado. Olhai a sociedade, o mundo que a geração passada criou. Se alguém tentasse tornar o mundo mais confuso, mais desgraçado ainda, não o conseguiria. Tendes de eliminar tudo isso instantaneamente, varrê-lo para a sarjeta. E para "extirpá-lo", varrê-lo, destruí-lo, necessitais de compreensão e também de algo bem mais importante do que a compreensão, ou seja, a "compaixão", a sensibilidade.

Vede, nós não amamos. Só vem o amor quando nada mais resta, depois de negardes completamente o mundo - não essa coisa enorme chamada "o mundo": o pequeno mundo em que viveis - a família, o apego, as disputas, o domínio, vossos êxitos, vossas esperanças, vossos "pecados", vossas obediências, vossos deuses e vossos mitos. quando negais esse mundo inteiramente, quando nada mais resta de vossos deuses, esperanças e desesperos; quando nada mais buscais - então, deste grande vazio, surge o Amor, que é a singular realidade, um fato extraordinário não provocado pela mente que tem "continuidade" mediante a família, sexo, desejo."

Para amar, precisamos cortar a continuidade e isso Jesus fez como ninguém. O que Jesus nos ensina é que o amor não é para todos, mas todos acabam por participar do amor... seja tacando pedras, odiando, crucificando, dividindo o mundo conforme preconceitos, matando, ameaçando, humilhando, destruindo, cumprindo a lei. Tudo isso é amor, agora.. amar não é para todos. Contraditório não?

Das três pessoas crucificadas naquela pascoa, os três mereciam a pena, os três foram condenados. Isso olhando pelos olhos dos fariseus right? Acontece que o ódio e a lei dormiram com a pessoa errada! No meio daqueles três havia uma pessoa que amava. Por isso, a morte de Jesus foi uma cópula, uma comunhão da qual todos participaram. Os fariseus se esbaldaram no amor de Jesus e criaram uma das maiores religiões do mundo, sem saber disso. Foram usados, ok, mas quando ouço o famoso.. "você está me usando", eu pergunto: e você não curtiu nada? Essa é a diferença entre amar e estar na continuidade. Aquele que ama percebe tudo o que vai acontecer, entra na dança e rodopia até o último compasso. No fim, apenas aquele que ama sabe que aquilo foi mais que uma dança, ao outro, cabe o perfume, ou a intuição, de que algo mais aconteceu naquele momento. Assim, o guarda que fura o lado de Jesus exclama que aquele era o filho de Deus, o coitado precisou ver os efeitos especiais de Deus para cair a ficha que tinha algo estranho ali. Aquele que está na continuidade só enxerga o que aconteceu quando se torna óbvio. Nesta perspectiva, Judas Iscariotes assume outros tons, muito mais trágicos.  

Krishnamurti fala que o amar surge da negação do mundo para indicar que o amor não é uma atitude que parte da minha individualidade, mas que surge de uma espaço em mim, apenas aberto pela negação da continuidade. Para ficar mais palatável, poderíamos dizer que todos os seres não são exclusivamente para si mesmos, mas que flores coloridas e cheirosas podem nascer de ramos espinhentos, sem nariz e sem olhos, e que isso é um plano aberto pelo amor.

Deixo-lhes o último paragrafo do capítulo que estava lendo para encerrar:

"E, se vos falta amor - que, na realidade, é o "desconhecido" - não importa o que façais, o mundo permanecerá no caos. Só com a total negação do "conhecido" - o que sabeis, vossas experiências, vosso conhecimento (não vosso conhecimento técnico, porém o conhecimento de vossas ambições, de vossas experiências, de vossa família), só quando tiverdes negado totalmente o "conhecido", o tiverdes apagado de todo, "morrido" para ele, vereis que restará um vazio extraordinário, um extraordinário espaço em vossa mente. Apenas nesse espaço sabemos o que é amar. Nele apenas é possível a criação - não a criação consistente em gerar filhos ou em espalhar tintas sobre uma tela: aquela Criação que é a energia total, o Incognoscível. Mas, para alcançardes, deveis morrer para tudo o que conheceis. Nesse morrer há grande beleza, inesgotável e vital energia."

...

 E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades. Mateus 19:22   


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