Aos mendigos de Deus

Rabbi Lau-Lavie oficializando o casamento. Cortesia de Bonnie Burke

Ouvindo o On being essa semana conheci a história de um rabino chamado Amichai Lau-Lavie. Em seu web site podemos ver a descrição de um de seus projetos, o Lab/Shul - "Lab/Shul é um espaço aberto para todos os públicos, direcionado para arte, Deus é opcional, uma comunidade experimental para encontros sagrados judaicos localizado em Nova York, alcançando o mundo."

Essa descrição expõe algo que o rabino acredita ser o mais importante do sagrado - a experiência humana do encontro e da troca de histórias. O rabino optou por valorizar o sagrado pela ressureição de uma tradição oral e não por um ritual vazio. Quando descreveu um encontro para lembrar o falecido pai, o rabino Amichai disse que seus irmãos passaram todo tempo tocando músicas, mas não conseguiram conversar. Por isso decidiu elaborar um culto mais flexível, onde as pessoas pudessem trocar experiências.

Deus, segundo ele, é uma palavra muito forte e que gera muitas controvérsias, algo que ele procurou evitar para preservar o melhor do sagrado, usando a arte e a contação de histórias para acessar a comunidade e divulgar a sabedoria judaica.

Esse rabino realizou um casamento gay recentemente e interpreta uma viúva especialista em aconselhamento conjugal, é também conhecido como "drag rabbi". Perguntado sobre sua infância, disse que o pai possuía um ritual muito peculiar para começar o dia, algo que envolvia práticas judaicas e coisas mundanas como tomar suco de tomate. Desse singelo ritual, o rabino adaptou seu próprio ritual diário, enfatizando que essas práticas são importantes para construir nossa identidade e que a cultura judaica tem uma tradição muito rica, algo que o inspirou a criar um espaço onde poderia compartilhar toda essa riqueza, sem as amarras da ortodoxia religiosa.

Esse toque de "suco de tomate" era o que faltava à religião, é o que dá sentido à liturgia - na minha humilde opinião.

Tenho amigos homossexuais que foram crentes e que vivem cantando musicas gospel. Isso eu nunca entendi, afinal a igreja condena todas as praticas sexuais que se desviam da heterossexualidade, procurando "curá-los", converte-los, etc. Me perguntava, por que eles não vão para candomblé? Lá, pelo menos, eles são bem vindos. Mas eles gostam do cristianismo e, volta e meia, vão para um culto. Diante desse fato, me pergunto: quantas famílias cristãs não sofrem com isso, quantos filhos não falam mais com seus pais? Será isso... cristianismo? Aaa mas a Bíblia condena essa "prática", ser gay é pecado e ponto final. Essa preguiça farisaica é o que aumenta o abismo entre a religião e as pessoas na contemporaneidade. Eu me pergunto se esses apologéticos conseguem contemplar a quantidade de fieis que são gays e sofrem com isso, abandonam a fé e sofrem a solidão e a falta de apoio de sua comunidade. 

Recentemente, fui visitar uma palestra judaica e me senti um mendigo cultural diante do rabino cantante e suas histórias. Segundo ele, até os cadarços possuem sua liturgia e sua história dentro do judaísmo. Para mim, meus cadarços são apenas cadarços. Quando me despedi, estava protestando inconscientemente, porque eles tinham uma morada cultural que, para bem ou para mal, estava lá como um abrigo espiritual, conferindo uma pele narrativa que os insere no mundo. Enquanto o meu mundo me atinge "à queima roupa", afinal, não tenho histórias sobre minha ancestralidade, nem canções dos meus antepassados. Tenho, no máximo, a time line do facebook.

Ultimamente, ando meditando, frequentando reuniões de umbanda, gosto de astrologia, historias judaicas, Bíblia... vou construindo uma colcha de retalhos do sagrado, ouvindo árvores, espíritos.   

Agradeço ao rabino Amichai e todos os mestres espirituais que espontaneamente abrem suas portas para que nós, mendigos de Deus, possamos compartilhar de suas histórias e de seu calor espiritual.

Segue alguns links sobre o rabino e outros albergues espirituais:

http://amichai.me/ - Site do rabino Amichai Lau-Lavie

https://www.youtube.com/watch?v=frQmPXhBD54&t=1133s&spfreload=5 - Video da monja Coen

https://www.youtube.com/watch?v=FYqJ5fwR4Ps - Palestra Nova Acrópole sobre o Bhagavad Gita






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