Nosso coração indigente


“Não Existe Amor em SP” é uma música que fala muito comigo ultimamente. A despeito de todas as novelas estarem repletas de um amor pastelão, dos posts do facebook ensinando como é o verdadeiro amor, de que maneira encontrar a pessoa certa e atrair seu interesse, sites de relacionamento, até recados do coração em programa de rádio... me parece que o amor nunca esteve tão longe, nosso coração está abandonado.

Não entendo por que o amor precisa ser pastelão nas novelas, assim como não entendo nossa realidade paulistana, tão inóspita à manifestações de afeto. Será que a maneira como temos conduzido nossa rotina tem nos enredado em uma trama de atividades que impermeabilizam nossos corações, tornando-nos previsíveis e sociáveis? Seria este o preço a pagar para nos tornarmos pessoas economicamente viáveis? Essa discussão esta abafada, extenuada por nossa incapacidade de questionar, afinal, não temos tempo para essas conversas filosóficas, temos que trabalhar, estudar, correr...uff!

Ontem, vi fotos de uma campanha que colocava corações vermelhos em monumentos do centro de São Paulo com os dizeres: “aqui bate um coração”. Não quero me delongar na questão de como a maneira “racionalista-moderno-capitalista” torna nossos afetos um mero pano de fundo – algo pastelão – pra não falar outra coisa. Quero apenas dizer que a arte é um caminho possível para reabilitação de nossos corações, uma forma de darmos voz a nossa alma.

Ouvindo “Não Existe Amor em SP” aceito o convite de adentrar minha intimidade. Uma batida lenta com acordes melancólicos subverte os limites ascéticos de minha individualidade, permitindo encontrar algo que estava a muito abandonado. Ao me ver, este indigente lamenta a situação em que nos encontramos. Palavras como “almas vazias” “ganância””flores mortas” são ditas com uma entonação cansada, mas logo outras palavras surgem quebrando essa série como se nosso coração fosse daqueles amigos que mesmo diante de nossos erros não conseguem nos odiar, ele me diz: “não precisa sofrer pra saber o que é melhor pra você”. Ele nunca desiste.

Suas palavras denunciam o que a algum tempo tem se tornado uma realidade incontornável, aprisionamos nossos afetos para conquistarmos um conforto material. Ser sustentável não é suficiente porque, assim como pessoas, nossos afetos não sobrevivem do necessário e não aceitam apenas sobreviver. Como animais que não se adaptam ao cativeiro nossos afetos não se satisfazem com essa dieta a base de prazer - glamour –trabalho escravo que nos habituamos.

Por fim, meu coração diz: “me dê um gole de vida”.

Quem quiser ouvir "Não Existe Amor em SP":http://www.youtube.com/watch?v=f35HluEYpDs

ou ver o filme "Aqui bate um coração":http://www.youtube.com/watch?v=npkWlXRj8xs
(muito bom!!!)

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