Meu amor pela fotografia


Koen Wessing: Nicarágua, o exército patrulhando as ruas, 1979
No fundo - ou no limite - para ver bem uma foto mais vale erguer a cabeça ou fechar os olhos. "A condição prévia para a imagem é a visão", dizia Janouch a Kafka. E Kafka sorria e respondia: "Fotografam-se coisas para expulsá-las do espírito. Minhas histórias são uma maneira de fechar os olhos." A fotografia deve ser silenciosa( há fotos *tonitruantes, não gosto delas): não se trata de uma questão de "discrição", mas de música. A subjetividade absoluta só é atingida em um estado, um esforço de silêncio (fechar os olhos é fazer a imagem falar em silencio). A foto me toca se a retiro de seu blablabla costumeiro:"Técnica", "Realidade", "Reportagem", "Arte", etc.: nada dizer, fechar os olhos, deixar o detalhe remontar sozinho à consciência afetiva. Roland Barthes - A câmara clara.

* Ruidoso como trovão

Esse pequeno excerto fala um pouquinho da minha atual paixão pela fotografia e mostra uma das peculiaridades desta linguagem. Na fotografia as imagens "falam" ou nos tocam justamente por sua mudez, porque a imagem possui um peso de realidade tão grande que causa embaraço, nos prende em um beco sem saída do qual não conseguimos escapar, tentamos, mas ela nos acoça com uma força que advém de nossa própria percepção.

Tentando ser mais claro, a maquina possui uma peculiaridade "mecânica-química" de enquadrar impressões luminosas de maneira a gerar objetos que se assemelham espantosamente com o que vemos. Essa proximidade constrangedora entre o que é construído - a imagem - e o modo perceptivo visual causa esta estranheza. A imagem em sua origem é um objeto construído, trabalhado pela intenção do fotografo, mas sua composição atrai nossa atenção com uma polaridade quase magnética, dizendo "isso foi" real, aconteceu.

Esse "curto circuito" ganha potência expressiva quando a imagem quebra certas previsibilidades, provocando aquela monotonia de nossa alma, acostumada a ter o real como visual, tirando-a de seu lugar. Por isso, para Barthes, a fotografia ganha potência quando desencaixa-se dos trilhos de nosso hábito perceptivo, descarrilando toda uma série de expectativas que derrubam e afetam nossa subjetividade.    

Queria continuar, mas vou editar minhas fotinhas.

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