À dez passos do amor
Tenho um evangelho(uma boa nova!): a vontade não enxerga o tempo. Ela não percebe esse
planinho de: Ah, um dia eu vou fazer o que eu quero. A vontade se adapta com a frustração e passamos rapidamente ao exercício da lamentação. Enfim, construímos o mundo do podia
ser e o que sobra de nossa vontade se precipita em amargo ressentimento.
Devo mandar meu chefe catar coquinho e viver de luz?
O eterno retorno é apenas um teste. Perceba que seu desejo precisa de atenção. Não defendo a anarquia hedonista, pois essa coisa de esbórnia, de orgias idílicas são invenções de nossos anseios enclausurados, anêmicos. Quero mostrar que seu querer precisa ser ouvido, precisa ser contemplado agora e isso não é incompatível com nossa vida ordinária burocrática. Nós não precisamos destruir o sistema, o poder constituído, para subverter a mecânica do ressentimento.
Creio que nossa vontade está bem próxima de um agir ingênuo, pueril, sem aqueles malabarismos e rodeios que enfeitam nossas ações. Sabe quando um amigo vinha na sua casa e gritava o seu nome, você saia e perguntava o que ele queria e ele dizia: vamos tomar um banho de chuva! Então era só esperar o fim daquela tarde de verão e sair correndo no meio da ventania, aquelas gotas grossas caindo esparsas pelos paralelepípedos, as arvores ruidosas, a poeira subindo. A rua vazia cabia apenas as crianças correndo, e você corria, corria, rindo de olhos fechados. Sentiu? O cheiro da sua vontade arfante dentro daquela roupa toda molhada.
Vou parar aqui de usar o "nós" e vamos as carências.
A minha vida carece do lúdico, de cores que não são encontradas com facilidade em nossa cultura. Por isso cada sonho é um mundo que procuro lembrar com unhas e dentes. No último sonho que pude lembrar eu voava em meio a uma tempestade e os ventos me faziam elevar acima dos prédios, alcançando as nuvens. Costumo voar em meus sonhos, mas foi a primeira vez que ultrapassei a altura dos prédios.
Ilustração de um sonho feita por Nando Zenari |
O amor carece de duelo, da agressividade e da risada dionisíaca embargada de crueldade e sobra cálculo e obrigações. Juntar amor e felicidade, para mim, é pular ao mar com uma bola de ferro preso aos pés.
Uma visão do amor influenciada por Três homens em conflito - fonte Google imagens |
O que seria este duelo? Um duelo era um acordo tácito, um lugar em que duas(ou três..rs) pessoas colocavam suas vidas em um gesto endereçado ao outro, um gesto pleno de morte e verdade. Amar, nessas condições, é perceber que o futuro e o passado não importam e que todos os acasos terminam onde começam os olhares eletrizados dos amantes... neste instante algo se perdeu para sempre e ambos sabem disso, não há o que se esperar ou duvidar. Os gestos se preenchem de espontaneidade e força, tudo se consagra ao peso do milésimo de segundo. Como barganhar diante do fim?
O encontro fatídico que poderia significar a morte era o encontro do duelo. O que seria o encontro dos amantes? Algo não muito diferente, como dizem os franceses: "le petit mort". Diante desta arena o amor parece pisar seu ambiente natural. Obstinação, profundidade, um sorriso lascivo e um coração cheio de usura sanguínea... ah! As velhas virtudes, destas sobraram as migalhas de um amor - labirinto de volições e desejos velhacos que nunca viram a luz do dia.
Liz Greene diz que, para o leonino, comprometimento sem hesitação é o pão da vida, concordo plenamente.
Volto ao "nós"
Pensemos nas palavras do anjo com carinho e descubramos nossa vontade, antes que a chuva passe.
Feliz dia dos namorados!
Obs: ai vai o site do http://sonhosnumpotinho.com/, onde você conta o seu sonho e ganha uma ilustração, legal naum!?
http://observareabsorver.blogspot.com.br/ - Esse é um vídeo que eu tinha visto uns anos atrás , ilustra um pouco de como andamos presos a várias picuinhas...esse cara é praticamente o anjo do eterno retorno.
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