Cartografias estão na moda

Esqueci meus medos embaixo da cama


Como andam meus afetos? Ando me perguntando e observando... por onde anda a minha alegria? O que sinto com mais frequência ultimamente? Raiva? Frustração? Vi uma publicação dizendo que temos não mais meia dúzia de afetos, mas vinte e tantos. Deve ser verdade, afinal foi uma instituição americana que pesquisou.

Quando penso sobre isso começo a me sentir um biólogo caminhando por território desconhecido, vendo seres em movimento, migrações e aglomerações. Seria possível sentir mais alegria e menos tristeza? Como estimular uma alteração do ecossistema afetivo de forma a multiplicar sentimentos bacanas e abater os espíritos selvagens que sejam negativos, tipo o medo? Como não sentir medo nos dias de hoje? Essa é uma pergunta que eu não pretendo responder. Usarei uma abordagem diferente, binóculo em mãos, observarei seus ajuntamentos e ninhos.

Sinto uma revoada de medos diante da possibilidade de fazer uma cagada irreparável. Nossa, bastante medo aqui. Certa vez estava começando a trabalhar de garçom em um evento no centro de Toronto, quando um supervisor perguntou: alguma dúvida? Aí eu respondi: existe algo que eu não deva fazer em hipótese alguma? Ele não entendeu, ai um colega me socorreu e disse: he wants to know... how not to fuck everything up. Ahhhh tá

Diante de uma tarefa nova, essa é a primeira pergunta que me vem a cabeça. Por isso, eu acredito que nunca serei um médico. Imagina eu lá operando alguém pensando... nossa amanhã eu poderia escrever um post sobre como.. ops(sangue por todos os lados), aquele tuuuuuuuu e várias pessoas assustadas. Eu diria, calma gente tá tudo bem! (sempre me cago quando ouço essa frase de alguém, pois tenho a intuição que algo horrível está para acontecer..rs)

Outra coisa que me atemoriza é embarcar em uma situação imprevisível, tipo um filme dos Coen ou do Scorsese. Estar em um lugar em que as pessoas se tornam violentas repentinamente, no qual sou solicitado a reagir, do contrário, posso sair morto ou pior..rs. Sabe aquele papo de especialista em segurança que diz que não devemos reagir em hipótese alguma? Pois é, isso, além de me lembrar do Charlie(Jim Carrey) tentando acalmar o cara armado no Eu, eu mesmo e Irene, me lembra também que certas situações podemos morrer de forma estúpida e isso é uma outra coisa que me preocupa de vez em quando. Tipo, vai dar merda mesmo, de qualquer jeito, por que não pegar uma cadeira e quebrar a cabeça do maluco? E se essa fosse a melhor alternativa? Existem loucos por ai, vai que meu caminho atravessou o de um psicopata, e agora? O filme Relatos Selvagens retrata bem esse choque entre pessoas querendo levar suas vidas e outras que estão em outra frequência, sendo abruptamente arrebatadas para um estado de barbárie... me parece que a selvageria está por ai, flertando com as pessoas. Ser razoável não é sempre um bom caminho.

Sempre fiz questão de ser bobo. As bobeiras normalmente nascem em qualquer época do ano, tipo hibisco de cerca viva. Faz tempo que não rio até chorar, acho que a última vez foi em uma aula... não me lembro direito. Meus alunos me divertiam muito, cada história... rir é a melhor didática. No primário vivia pensando piadas, caricaturas, pegadinhas, hoje em dia isso não existe mais. Por isso, decidi voltar a desenhar coisas esdruxulas e publicar aqui junto com meus posts. Quero reflorestar essa parte da minha vida. 

Um dia encontrei um livro que falava sobre um rio do amor na India, se eu não estiver enganado, e comentava que este rio está completamente poluído. O autor se preocupava com o tratamento que damos à natureza e de suas repercussões em nossa intimidade, principalmente em nossos afetos. Se um rio do amor está morto, sem peixes, cheio de dejetos e substâncias tóxicas, não seria essa uma boa lente para observar como andam os nossos afetos? Ansiedade não seria um rio do amor poluído? Ouvi uma história de que a prefeitura de São Paulo estava querendo perfumar o rio Pinheiros, isso parece ser um típico exemplo de como nos aproximamos de nossos afetos... queremos apenas que eles sejam inertes. Em todo caso, sempre existirá um remedinho para dar conta do recado. 

Dizem que mentir é errado não? Para mim não é nada, é que nem cocô, se jogarmos na terra... vira até adubo. Em um relacionamento, quando mentimos estamos cagando um rio cuja água bebemos diariamente, só isso. Sentir raiva, desprezo por pessoas com as quais convivemos é um convite para uma contaminação de nossa vida interior. Cuidamos de nossos relacionamentos como cuidamos de qualquer coisa, nossos afetos se diversificam e florescem na medida em que os preservamos e alimentamos. Tudo precisa de cuidados e atenção, nossa vida afetiva não é diferente. A não ser que gostemos de afetos cactos, espinhos de ódio e gostos estáticos. Olhando as relações, podemos perceber uns verdes altos e lineares, entre pedras e ossos.  

Escrever é algo que me alimenta, gosto de jogar palavras nas águas, cevar meus peixinhos.  

Aqui vai algumas referências bacanas para meus ilustres:

Esses são da Maira Kalman




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