A metáfora econômica


Lendo um e-mail de um colega de trabalho encontro um tema bem interessante para nossas conversas, a metáfora econômica nos relacionamentos. Isso porque o e-mail em questão tratava de uma mulher que mandara uma carta ao “The Financial Times” perguntando como arrumar um marido rico, mas rico mesmo, porque até agora tinha encontrado apenas homens que ganhavam de 200 a 250 mil por ano, o que não significava muita coisa porque ganhando essa merreca ela nunca conseguiria morar no condomínio dos seus sonhos.

O editor do jornal, tocado pela situação delicada da leitora, escreveu uma resposta adequada à solicitação da moça e eu poderia sintetizar da seguinte forma: “você quer um cara rico, mas o que você tem a oferecer para conseguir isso? Segundo seu e-mail você é bonita e versátil, mas essas características tendem a depreciar com o tempo, logo você se configura como um “ativo sofrendo depreciação” enquanto meu dinheiro continuará rendendo dividendos. Assim, no decorrer do tempo você irá envelhecer, e dentro de 5 ou 10 anos você estará um caco, enquanto eu estarei mais rico. Com isso, concluo que você esta no momento ideal de venda, mas não de ser comprada. Quem a tiver hoje deverá manter uma “trading position” não uma “buy and hold”, porque você não se configura como um bom investimento a longo prazo. Podemos namorar(modalidade – locação), mas casar nunca, espero seu telefone para mantermos contato...”

Não percebemos a profundidade das influências que nossa cultura vem sofrendo após séculos de dedicação ao desenvolvimento econômico. E isso se torna claro quando nos deparamos com o cômico desta anedota. Por mais besta que o exemplo acima possa parecer ele guarda semelhanças, e por que não um vocabulário, que se torna freqüente em nossa maneira de lidar com questões de comportamento e relacionamentos.

Já ouvi uma música que dizia ficar com a fulana seria o “melhor investimento que ele poderia fazer”, ou “ciclano não apresenta nenhuma contrapartida” e “nosso relacionamento está com um déficit emocional”. No papo de buteco descobrimos que aquela estagiária com atributos físicos privilegiados esta abrindo uma “oferta pública de ações”, em outras palavras, terminou o namoro. Suas ações estão em baixa quando ninguém retorna suas ligações-mensagens de facebook-sms, o “fundo do poço”, momento crucial para aqueles que possuem um bom diagnóstico de mercado, afinal, se os seus papéis são bons, esse é o momento exato de ser comprado! Difícil é saber quando a princesa (príncipe) estará passando por uma má fase, geralmente, um lapso que só o investidor mais atento consegue aproveitar.

Um colega reparou que em São Paulo a maioria das garotas namoram, isso talvez se explique pelo ambiente de mercado, pois em uma cidade que as pessoas trabalham durante a semana toda em jornadas que muitas vezes conjugam trabalho-faculdade-trânsito, a possibilidade de conhecer pessoas novas seja reduzida, o que alavanca a necessidade(demanda) de afetos, alavancando também o valor global de pessoas compatíveis dispostas a manter um relacionamento duradouro, desvalorizando aqueles que se enquadram em um perfil de especulador (pessoa solteira que opera em Day Trade). Tem aqueles que, diante do inexplicável e caótico movimento dos preços das ações, sucumbem aos cálculos matemáticos avançados e a Análise de Gráficos (sites de relacionamento tipo Badoo), procurando maneiras mais ou menos exatas de determinar o indeterminável.

Agora, uma boa pergunta seria em que direção aponta essas semelhanças e se nossa cultura tem avançado em direção de uma planificação ético-monetária, enfim, que conseqüências essa absorção afetiva de nossos conceitos econômicos trarão em longo prazo para nossa vida comportamental? O amor é algo comprável?

Comentários

  1. Interessante esta metáfora.
    Mas o amor certamente não é comprável, apesar das relacões "afetivas" serem negociáveis e passíveis de especulação.

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  2. Pois é meu cumpadi, a metáfora é boa... acontece que ela funciona cada vez mais! Isso causa ansiedade no mercado..rs porque percebo que nossos afetos estão se adequando às regras do jogo. Estamos capitalizando nossos sentimentos e isso, ao meu ver, é um problema. O amor não ser comprável é algo que nós achamos correto, mas desta forma ele não se enquadrará em nossos padrões mensuráveis-qualitativos.. sendo, então, algo que tende a ser sufocado como um ruído em nossas comunicações (linguagem).

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  3. Divertido passar por aqui!!! Então vou sair do nosso mundinho... espero ser bem vinda... :D exatamente hj mesmo conversei por um tempinho com uma "especialista" no assunto... e depois de várias elucubrações para chegar ao ponto, ela simplesmente resumiu: não se pode tratar pessoas como investimentos, cultivar um amor e uma amizade não pode ser encarado com um investimento, no qual se deseja retorno deveras imediato... se ages assim a maior parte do tempo, suas relações humanas tornam-se superficiais, e aquela felicidade almejada que poucos conhecem, só se distancia... o outro está muito distante...

    não é a toa que o amor como um eterno doar-se aparece em tantas religiões e filosofias de vida... amor é doação, só quem é realmente livre ama sem pedir nada em troca, e principalmente sem esperar algo troca... e ama o tempo todo sem esquecer-se de quem é... quando se ama assim parece que tudo na vida entra no trilho... :D

    Usar termos econômicos para a vida, sobretudo a vida afetiva, apenas distancia-nos da felicidade sincera, a mente não é tão esperta como se imagina e se deixa jogar com o intercâmbio de palavras. O uso de palavras equivocadas em lugares equivocados leva a uma mistura de conceitos que afeta diretamente as relações de uma pessoa e principalmente a percepção de suas limitações e capacidades. Se demorar em perceber, ela estará gerenciando algo que não é gerenciável como se quer... ai já viu!

    comentário da Josiane Francelino.

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